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segunda-feira, setembro 29, 2025

20 reais

Por Roberto Kuppê (*)

Nesta semana e talvez na próxima, não haverá coluna (Zona Franca). No entanto, este articulista vai escrever artigos sobre temas diversos, principalmente sobre saúde, hospitais e histórias da vida real envolvendo pacientes e acompanhantes de pacientes. Eu sou um dos acompanhantes de minha mãe. Ontem foi o meu dia e da minha irmã Marli, acompanhar minha mãe no leito do hospital em Maceió. Hoje, já transferida para um hospital particular (com despesas pagas pelo governo federal), o plantão é da Manu (Emanuele), esposa do meu sobrinho Roberto Bentes.

Hoje eu tenho uma história prá contar. Aconteceu ontem durante meu turno no hospital. Mas, antes de contar essa história, quero corrigir outra. Ontem, no artigo “Sete dias”, eu disse que o ator Gene Hackman fora abandonado e morrera sete dias após. Não foi bem assim. Na verdade, ele vivia com a companheira que cuidava dele. Acontece que ela morreu e Gene Hackman ficou sem a cuidadora dele. Como moravam sós, os corpos deles foram descobertos sete dias após a morte do ator.

Voltando à história local, o tema é amor ao próximo sem saber nem o nome do próximo. Ou da próxima, esse caso. Andando pelos corredores do hospital, prá lá e prá cá, deparamos com muitas histórias paralelas. Cada pessoa que circula ali tem uma história acontecendo. Dei lugar prá senhora sentar, ajudei colocar paciente na maca e até avisei à um acompanhante masculino que a mãe dele estava com o bumbum descoberto na cama.

Mas, foi a chegada de um casal de meia idade no final da tarde que me chamou a atenção. Chegaram numa ambulância do Samu. O marido bastante alterado. Parecia bêbado. Ela chorando e acusando ele de ter batido e a ameaçada de morte. Uma situação, convenhamos dizer, muito comum nos dias de hoje. A assistente social tentou acalmar os ânimos do paciente, porque ele teria que tomar uns calmantes. Ele se recusou e continuou a proferir impropérios contra a esposa, uma negra parecida com a atriz Whoopi Goldberg (Ghost), sendo aparentemente pobre.

Compadeci-me dela e fui saber o que estava acontecendo. Quando cheguei até ela, estava chorando baixinho e tentando fazer ligações. Porém, estava sem crédito. Vendo a situação dela, habilitei o telefone dela como meu Wi-Fi. Então ela começou a ligar pra parentes, amigos e até pra polícia. Precisando sair pra cuidar da minha mãe, comprei 20 reais de crédito prá ela. Então ela me agradeceu e fui embora. De longe via ela ligar, gesticular. Não perguntei o nome dela. Não sei o que aconteceu ou que acontecerá depois com ela. Só espero ter ajudado com esses 20 reais de crédito. Para mim, uma ninharia. Para ela, talvez, tenha significado a vida dela. E vida que segue. Até o próximo artigo.

(*) Roberto Kuppê é jornalista e filho de dona Petronila.

Sete dias

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