Um olhar crítico e equilibrado sobre os primeiros passos da nova gestão em Porto Velho
Passados os cem primeiros dias da gestão Léo Moraes, Porto Velho começa a enxergar os contornos de uma administração que promete inovação, mas ainda caminha entre acertos pontuais e problemas crônicos. Com um discurso moderno e presença constante nas redes sociais, o novo prefeito tenta equilibrar visibilidade e eficiência — mas será que isso basta para transformar a capital rondoniense?
Pontos positivos: saúde, limpeza e gestão mais organizada
Léo Moraes começou a gestão com medidas que demonstram preocupação com áreas estratégicas. Um dos primeiros avanços foi a retomada dos exames de raio-X na UPA Leste, um serviço fundamental para a população que há meses enfrentava limitações no atendimento básico de saúde.
Outro ponto digno de menção é a organização da administração: reuniões semanais de acompanhamento e a definição de metas para os 100 primeiros dias indicam um esforço em planejar e acompanhar ações com mais responsabilidade.
A Operação Cidade Limpa, embora ainda restrita a algumas áreas, é um sinal de que a cidade voltou a receber atenção em serviços essenciais, como capina, varrição e pequenas reformas urbanas.
Distritos esquecidos e uma cheia ignorada
Entretanto, não dá para falar de avanços sem encarar os graves problemas de omissão. Os distritos de Porto Velho, especialmente os afetados pela cheia do rio Madeira, continuam em segundo plano. Famílias inteiras enfrentam isolamento, perdas materiais e falta de apoio humanitário. A sensação é de abandono — como se a cidade terminasse onde acaba o asfalto.
A falta de respostas concretas da prefeitura, diante de uma situação tão delicada, contrasta com a agilidade que a comunicação institucional tem para produzir vídeos e peças de marketing.
Comunicação demais, ação de menos?
A presença digital do prefeito e de sua equipe é intensa — talvez até demais. Os perfis oficiais da prefeitura publicam diariamente vídeos com trilhas animadas, efeitos, filtros e frases de impacto. Mas o que falta em muitas ruas, sobra em likes.
Sim, comunicação é essencial, mas não pode ser prioridade quando há famílias sem abrigo, bairros sem saneamento e escolas sem estrutura. A crítica aqui não é contra o uso das redes sociais, mas contra a ilusão de que isso substitui ações concretas.
Crises políticas e derrotas legislativas
Outro ponto de atenção é a fragilidade da relação com a Câmara Municipal. Ainda nos primeiros meses, o prefeito sofreu uma dura derrota na tentativa de aprovar um projeto de parceria público-privada. O episódio escancarou uma dificuldade de articulação política que, se não for corrigida, pode comprometer toda a gestão.
A hora da virada
É legítimo reconhecer os acertos. Começar uma gestão com planejamento, energia e ações pontuais é sempre positivo. Mas também é dever da população cobrar mais.
Porto Velho tem pressa. E a cidade real — a que vai além dos filtros e das hashtags — espera mais do que discurso. Espera presença, ação e prioridade para quem mais precisa.
Prefeito, parabéns pelos primeiros passos. Agora é hora de calçar as botas e entrar nos lugares onde o digital não chega. Porto Velho precisa de governo de verdade.
Edson Silveira é advogado, administrador, professor e vice-presidente estadual do PT em Rondônia.
Fontes: Prefeitura de Porto Velho, tudorondonia.com, gentedeopiniao.com.br, redes sociais oficiais.