Solidariedade seletiva: Quando o governador prefere a Paulista a beira do Madeira

Por: Édson Silveira

O governador de Rondônia, Marcos Rocha, resolveu fazer um passeio na Avenida Paulista. Nada contra caminhadas, especialmente em tempos de sedentarismo político. Mas Rocha fez questão de esclarecer: “não foi uma atitude política”. Ah, bom. Menos mal. Fomos quase levados a pensar que era. Afinal, ele só atravessou o país para apoiar a anistia de pessoas “simples e inocentes” que foram presas após os atos terroristas do dia 8 de janeiro de 2023. Nada político, imagina.

Enquanto isso, aqui em Rondônia, o rio Madeira sobe com a paciência que falta ao governador, invadindo comunidades ribeirinhas, desalojando famílias e trazendo sofrimento para centenas de pessoas que, ao contrário dos “inocentes” da Paulista, não tentaram invadir a sede dos Três Poderes ou depor o Estado Democrático de Direito. Essas, sim, são pessoas simples, de verdade — e que precisam de socorro, não de discursos vazios ou viagens performáticas.

O mais curioso é que o governador não parece ter tido tempo para andar pelas margens do Madeira. Talvez porque lá não tem holofote, nem bandeiras verde-amarelas de ocasião. Quem vem enfrentando a situação de frente é a Prefeitura de Porto Velho, sob coordenação do prefeito Léo Moraes. Mesmo com recursos limitados, a gestão municipal tenta minimizar o sofrimento das famílias atingidas. Mas falta o básico: apoio do governo estadual, que continua ausente, como aquele parente que só aparece em festa, mas some na hora da faxina.

É lamentável — para não dizer trágico — que, diante de uma calamidade que atinge nosso povo, o chefe do Executivo estadual escolha posar de solidário a réus condenados pela mais alta corte do país, enquanto ignora a dor concreta, diária e urgente da população que o elegeu. Talvez para Marcos Rocha, ser “inocente” seja apenas uma questão de afinidade ideológica. Ou de endereço: mais fácil sentir empatia na Avenida Paulista do que nos becos alagados de Jaci Paraná ou nos bairros da zona Leste de Porto Velho.

Rondônia não precisa de governador turista. Precisa de liderança, presença e compromisso com os que realmente precisam. De preferência, com menos selfie e mais ação.

Edson Silveira é advogado, administrador, professor e vice-presidente estadual do PT/RO.

Fontes: Instagram oficial de Marcos Rocha; notícias locais sobre a cheia do rio Madeira.

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