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domingo, setembro 28, 2025

Sete dias

Por Roberto Kuppê (*)

Domingou no hospital com dona Petronila Paiva Moraes da Silva, 93 anos. Minha querida mãe. Mãe de 10 filhos, dos quais sete vivos.

Nasceu em Porto Velho, viveu em Guajara-Mirim onde casou e teve esses filhos. O marido, meu pai, morreu em 1965, quando eu tinha apenas cinco anos. Não entendia a morte ainda. Só lembro do meu pai no caixão rodeado de gente chorando.

A necessidade fez minha mãe nos levar a morar em Porto Velho, no final da década de 60. Os primeiros anos na capital foram de muito sofrimento, claro, natural. Pulando etapas já conhecidas, hoje me encontro cuidando de quem cuidou de mim. Dedicou horas de sono para cuidar de todos os filhos menores sem reclamar, sem receber qualquer tipo de benefícios sociais, inexistentes na época.

Quem dera se existissem bolsa família, minha casa minha vida, pé de meia e outros benefícios sociais naquela época. Nem SUS existia. Era tudo no seco dependendo apenas da LBA ( Legião da Boa Vontade), criada pela então primeira dama Darci Vargas no final da Segunda Guerra mundial e extinta em 1995 após a ex-primeira dama Rosane Collor desviar recursos da entidade. De Fernando Henrique prá cá alguns programas sociais foram criados mas foi na Era Lula que o assistencialismo melhorou até os dias de hoje.

Voltando à minha mãe, num leito de hospital totalmente bancado pelo SUS, espera por uma cirurgia. Totalmente bem assistida, como não poderia ser diferente. Mas a razão deste artigo não é esse. É sobre deixar em segundo plano quem sempre te colocou acima das vaidades pessoais. Toda mãe, seja de qualquer nível social, coloca sempre os filhos em primeiro lugar. Você não vê mães nis bares vendo jogo ou em pescarias. As mães estão sempre em casa cuidando dos filhos. As que trabalham fora, quando chegam em casa, continuam trabalhando cuidando dos afazeres de mãe.

Nunca coloque sua mãe em segundo plano, principalmente se ela for idosa. É o momento em que ela mais precisa de você. Não a abandone nunca. Falo isso porque muitos filhos abandonam (literalmente falando) seus pais, sobretudo a mãe, por vários motivos. É claro que você casa, tem sua família, mas não pode se esquecer de quem o gerou.

Eu vejo muitos mães completamente esquecidas e abandonadas pelos filhos. Uma judiação. O abandono de idosos é morte na certa. Eles precisam do nosso apoio até os últimos suspiros de vida. E aqui eu não estou falando de apoio financeiro. Estou falando de amor. Quanto mais dinheiro envolvido, mais abandono. Alguns filhos preferem viajar, deixando os pais idosos com cuidadores ou numa casa de repouso.

Um exemplo de um idoso milionário que foi abandonado em sua mansão nos Estados Unidos. O ator Gene Hackman, morreu sete dias após ser deixado sozinho em casa, numa cadeira de rodas. Com Alzheimer, ele não se alimentou, não tomou remédios e morreu.

Quantos mundo afora não morrem desta maneira, por abandono? Quase desde sempre cuido de minha mãe. Mas, as filhas mulheres cuidam melhor.

Um salve para as irmãs Marli, Luzia e Lucinha que estão sempre a postos para cuidar. Marli em tempo integral em Maceió. Luzia em Brasília e Lucinha no Rio, correm para Maceió para ajudar nos plantões como acompanhantes nos hospitais. E assim, com 93 anos de idade, esperamos que ela chegue ao centenário. Não dá trabalho cuidar. Dar prazer.

  1. (*) Roberto Kuppê é articulista político e filho de dona Petronila

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