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sábado, dezembro 13, 2025
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Arrogância não governa: a queda livre de Coronel Braguin um personagem de internet

Por Samuel Costa

AntagonistaRO – A quem confunda farda com aura divina e engajamento digital com liderança política. Coronel Braguin parece ter cometido exatamente esse erro. Sucumbiu não por falta de likes, mas por excesso de soberba. Tentou vender o sonho de Ícaro, com asas feitas de vaidade, e descobriu que o sol da política derrete fantasias em tempo recorde.

O militar que resolveu usar a briosa Polícia Militar do Estado de Rondônia como trampolim simbólico rumo ao Palácio esqueceu um detalhe elementar. Política se faz com coração, escuta e empatia, não com fígado, gritos e dedos em riste. Quis brilhar mais que o próprio governador, Coronel Marcos Rocha, e ignorou a dica de ouro do seu superior hierárquico. Humildade e caldo de galinha não fazem mal a ninguém.

O cenário do vexame, registre-se, era sério e exigia responsabilidade. A audiência pública promovida na Assembleia Legislativa de Rondônia tratava de um Projeto de Lei sobre a Organização Básica e as Promoções da PM/RO, tema sensível, técnico e de profundo impacto na carreira, na hierarquia e na valorização dos praças e oficiais. Não era palco para espetáculo pessoal, tampouco para performances de rede social. Era um espaço que exigia preparo, equilíbrio e respeito à instituição.

Nas redes, prometeu tudo. No mundo real, não entregou nada. Na audiência, o personagem virtual encontrou a realidade analógica, sem filtros, sem edição e sem aplausos programados. O resultado foi um constrangimento pedagógico. Talvez merecesse mesmo um curso intensivo, estilo Pablo Marçal, com um tutorial definitivo de como se auto sabotar, pagar mico e ser politicamente desidratado ao vivo e em cores.

Como se não bastasse o despreparo técnico e emocional, o pré-candidato ao governo de Rondônia pelo partido NOVO saiu do episódio com um ônus político ainda mais pesado. Acusações graves foram expostas publicamente, com menção a boletim de ocorrência, colando-lhe a pecha de agressor. Em política, especialmente quando se discute segurança pública, esse tipo de rótulo não é detalhe, é sentença moral. E diante disso, silêncio não é estratégia, é combustível para o desgaste.

A lição é simples e cruel. Personagens caricatos e folclóricos até sobrevivem no ecossistema das redes sociais. Mas, quando confrontados diretamente, sem roteiro, sem edição e sem plateia cativa, caem em descrédito numa velocidade impressionante, quase tão rápida quanto a da luz, ainda que a comparação seja tão exagerada quanto as próprias promessas feitas na internet.

No fim das contas, governar exige mais do que bravatas, mais do que vídeos virais e mais do que a pose de tigrão digital. Exige preparo, serenidade e, sobretudo, humildade. Sem isso, qualquer projeto político nasce condenado a uma queda livre, dessas que nem o melhor algoritmo consegue salvar.

*Samuel Costa é rondoniense, advogado, professor, jornalista e especialista em Ciência Política*

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