José Armando BUENO (*)
A janela partidária é, na realidade, um processo de dar nós e amarrar bem as pontas. Ela se aproxima e vai definir todo o jogo eleitoral em 2018. Uma das decisões mais aguardadas é a do governador Confúcio Moura, uma velha raposa que sabe que em boca fechada não apenas não entra mosca, mas evita dores piores que as renais. E ele sabe dar os nós, mas precisa amarrar as pontas. Antecipar sua decisão faria desmoronar imenso castelo de articulações e nós meticulosamente construídos com enorme paciência, silêncio monástico, força titânica e sagacidade felina. Dominar instintos exige mais que frieza, inteligência, e amarrar as pontas, sabedoria.

ENGENHARIA POLÍTICA | No começo da jornada, ainda em 2016, Confúcio já percorria bastidores sentindo os odores e ardores que sua decisão poderia despertar em 2018. Foram tantas conversas ao pé do ouvido, mais ouvindo que falando. Sim, as pessoas ao lado do governador falam mais do que deveriam e ele sabe disso. A pergunta certa no momento exato para a pessoa escolhida, são armas estratégicas para pensadores estratégicos. E o governador, de tanto plantar em seis anos de mandato, começou sua farta colheita para afinar e refinar sua decisão, que mexe com as vidas de quase uma centena de pessoas que gravitam no seu círculo de poder mais próximo, mas que vai causar impactos importantes em alguns milhares. Afinal, deixar quase oito anos de governo para abraçar mais oito no Senado, exige uma engenharia política para poucos.

OUVIR, OUVIR, OUVIR | Nessas andanças por todo o estado e, mais particularmente, infindáveis cafezinhos em sua residência ou no gabinete, Confúcio ouviu mais que padre em temporada de quaresma ou no confessionário para a remissão de pecados. E ele conhece do ofício. Fala pouco, mas ouve muito, muito. E deve ter ouvido de tudo, desde condenações para não deixar o governo (claro, os pecadores comissionados têm seus interesses), até encenações para levar consigo aos céus senatoriais, aqueles assessores mais obsessores. Para além dos quadros políticos de operação de governo e que lhe são muito fiéis, Confúcio debruçou-se ao árduo trabalho de ouvir políticos, do topo à base da pirâmide. Líderes partidários, correligionários, sexagenários, mas também os missionários, os visionários e os mercenários, comum em todos os partidos. De todos, certamente, tirou algum proveito.

PMDB, PDT, PSB, DEM… | Claro que as conversas passaram por muitas siglas partidárias, desde o seu berço histórico até parceiros e opositores de todas as hostes. Lenta mas continuadamente, o governador foi lapidando sua estratégia para reduzir não apenas os riscos em suas decisões, mas também alavancar seu poder. Primeiro, deixar o PMDB já era uma decisão que deveria tomar, em função do cenário próprio do partido em relação ao seu objetivo rumo ao Senado. Não poderia submeter-se ao desgaste intra-partidário para enfrentar o senador Raupp, ainda que tenha dificuldades à frente. O capital político do senador é uma muralha da China, que pode perder quilômetros mas ainda assim é gigante. O PSB do seu vice-amigo não ofereceria a necessária diversidade para a estratégia de bloco, aonde cada posição no tabuleiro vem sendo costurada como um alfaiate de reis e imperadores. O PDT, como já apontava na curva, estava na linha de tiro do STF, que acaba de derrubar de modo irrecorrível seu líder. Carta fora do baralho. Mas o DEM de Marcos Rogério e da velha raposa José Bianco… hummm… isto pode parecer melhor do que a encomenda. No DEM, Confúcio poderia fazer mais do que simplesmente ter uma sigla. Poderia até buscar uma composição estratégica com o PSB ou, mais, ter o DEM no topo de um novo grupo. Difícil? Aguarde duas semanas. Confúcio é bom de dar nó e Bianco em amarrar as pontas.
(*) José Armando Bueno é articulista e especialista em marketing político