Por Édson Silveira*
É sempre curioso como, em Brasília, a chantagem vira “negociação”, o achaque se chama “articulação” e a sabotagem ao país veste o disfarce de “independência dos poderes”. A última palhaçada do Congresso Nacional, comandada por Hugo Motta e Davi Alcolumbre, é mais um capítulo do velho roteiro: o centrão faz cara de ofendido, finge que está agindo em nome da democracia, mas o script é sempre o mesmo — aumentar o preço do seu apoio, embolsar suas emendas bilionárias e trabalhar incansavelmente para enfraquecer o presidente Lula.
A encenação é tão malfeita que beira o ridículo. Sabendo que o governo contava com o esvaziamento natural do Congresso por conta das festas juninas, os espertalhões do centrão resolveram aplicar uma rasteira digna de um roteiro de novela mexicana. Convocaram votação virtual, entregaram a relatoria ao PL (o partido do “mito”), escantearam o Planalto e ainda posaram de ofendidos nas redes sociais. Tudo isso depois de receberem quase R$ 2 bilhões em emendas neste ano. Sabe o que é isso? É o preço da “governabilidade” no Brasil. Inflação galopante, sim — mas de cinismo e de hipocrisia.
O mais revoltante, porém, é a tentativa escancarada de asfixiar Lula. A elite política brasileira, com apoio entusiasmado da extrema direita e da turma da Faria Lima, está operando como uma verdadeira frente ampla do retrocesso. Eles sabem que, se Lula mantiver sua força e sua conexão com o povo, 2026 será o fim das pretensões de Tarcísio, Zema e companhia limitada. Por isso, sabotam. Travestem o boicote de “pragmatismo” e a chantagem de “reação institucional”. E, claro, já ensaiam a próxima jogada: forçar o governo a cortar programas sociais para agradar os mercados, gerar desgaste popular e pavimentar a volta dos falsos salvadores da pátria — aqueles que tomam água importada e não sabem onde fica o Crato.
Mas o povo brasileiro não é bobo. Já viu esse filme antes. Tentaram matar Lula politicamente em 2016, enterrá-lo em 2018, aniquilá-lo em 2019 e ignorá-lo em 2022. Em todas as vezes, o retirante nordestino, operário, metalúrgico, líder popular, renasceu mais forte. E é exatamente por isso que a elite tem tanto medo dele. Lula representa aquilo que eles mais odeiam: um projeto de país que inclui o pobre, respeita o trabalhador e distribui riqueza sem pedir bênção aos barões do agronegócio ou aos tubarões do mercado financeiro.
Em tempos em que Alcolumbre vira símbolo da “moderação” e Hugo Motta posa de líder nacional, é bom lembrar: o centrão não tem ideologia, tem fatura. E se hoje eles se aliam ao bolsonarismo enrustido de Tarcísio, é porque farejam poder e sentem que podem, mais uma vez, capturar o Estado para servir aos seus próprios interesses. O que está em jogo não é apenas a votação de um projeto ou a liberação de emendas. É o futuro de um país que, pela primeira vez em muito tempo, voltou a ter esperança.
Lula não pode perder. O Brasil não pode perder. E o povo não vai deixar.
*Édson Silveira é advogado, professor, administrador e vice-presidente estadual do PT/RO.