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terça-feira, setembro 2, 2025

Cineastas rondonienses discutem produção de animação na Amazônia em roda de conversa com alunos da rede pública de Porto Velho na 2ª Edição do FICAR

Em encerramento da programação, Festival homenageia Marcos Magalhães, um dos maiores animadores do Brasil

No último dia do Festival Infantil de Cinema de Animação de Rondônia – FICAR 2ª Edição, realizado na última sexta-feira (29) na Escola Estudo e Trabalho, em Porto Velho, os bastidores da sétima arte foram colocados em pauta. Mais do que exibir filmes, a programação levou alunos e educadores a refletirem sobre o processo de criação por trás de uma animação, em um bate-papo com os cineastas rondonienses Juraci Júnior e Édier William, que tiveram seus filmes exibidos durante o festival.

Em meio aos desafios de se produzir cinema na Amazônia, os dois compartilharam suas experiências em uma roda de conversa que mostrou aos jovens como a arte pode se tornar ferramenta de resistência, crítica social e identidade cultural. A atividade também contou com uma homenagem especial ao cineasta Marcos Magalhães, criador do Anima Mundi e referência internacional na animação brasileira.

Magalhães não pôde estar presente, mas enviou um vídeo diretamente de seu espaço de trabalho, entre rascunhos e projetos em andamento. “Para mim é uma imensa honra receber esta homenagem, que divido com a minha família, meus alunos, colegas animadores e professores. O reconhecimento por um público infantil é muito importante, ainda mais em um festival amazônico que acontece numa região plena de histórias e personagens, que já estão vivos na imaginação e ficarão ainda mais poderosos quando transformados por estes jovens animadores em filmes de animação”, disse o cineasta.

Cinema que toca e transforma

Para dar a tônica do debate, foram exibidos os curtas “Nazaré: do Verde ao Barro”, de Juraci Júnior, e “Planeta Fome”, de Édier William. O impacto foi imediato: até os estudantes mais dispersos se endireitaram nas cadeiras para acompanhar a densidade das histórias.

Mediada pela coordenadora pedagógica do festival, Carmela Tacaná, a roda de conversa girou em torno de perguntas sobre carreira, uso de inteligência artificial, roteiro e, sobretudo, o sentido de se produzir cinema. “O cinema como arte é uma forma de expressão e deveria ser mais valorizado no dia a dia. Saber que temos animações feitas por cineastas da nossa cidade é inspirador”, disse Ian Lima, estudante do ensino médio.

O mesmo sentimento de inspiração foi destacado por Gustavo Chaves, que já participou de oficina ministrada por Magalhães: “Achei muito legal e interessante porque não é sempre que temos a oportunidade desse contato. Isso incentiva a expressar talentos que a gente nem sabia que tinha. Foi assim comigo na oficina do Marcos, aprendi muito com ele”.

Vozes do festival

Para Édier William, levar sua obra às escolas é o que dá sentido à produção. “Depois de todos os desafios enfrentados, o público ter acesso ao que a gente produz é algo que nos enche de orgulho. “Planeta Fome” nasceu da urgência de discutir um problema real, que não pode esperar: quem sente fome não pode esperar por amanhã. Fazer esse debate dentro da escola é fundamental”.

Juraci Júnior reforçou a importância da representatividade. “O FICAR aproxima a arte e essa identidade que a gente busca trabalhar. Quando o público reage, se emociona, se reconhece na tela, isso é muito potente. Esses estudantes podem se ver como futuros criadores. Olhar nos olhos deles e trocar experiências foi essencial”.

Para os alunos, a experiência foi reveladora. “A gente nunca pensa que vai sair uma animação daqui de Porto Velho. Hoje essa vivência quebra a visão que se tem da nossa cultura”, comentou Ana Eloise. Já Laís Maria destacou a relevância do FICAR: “Ter esse contato dentro da escola é um privilégio, algo que normalmente é muito difícil de acontecer”.

Do dia 25 a 29 de agosto, o FICAR percorreu escolas da rede pública em Rondônia, tendo passado por Guajará-Mirim, Nova Mamoré, e encerrando a programação em Porto Velho. A iniciativa aproxima crianças e adolescentes da linguagem cinematográfica e provoca reflexões sobre suas próprias vivências por meio da arte. Ao avaliar o encerramento da edição, a coordenadora do festival, Izadora Jemima, destacou o sucesso da proposta. “Nosso objetivo sempre foi democratizar o acesso ao cinema e estimular o olhar crítico desde cedo. Encerrar com essa troca entre cineastas, alunos e professores só reforça que o FICAR está cumprindo seu papel”, concluiu.

O festival foi realizado pela Associação Ambientalista Verde Vida, com recursos da Lei Paulo Gustavo (Edital nº 06/2024 – SEJUCEL/SIEC), e contou com apoio do Governo do Estado de Rondônia, FEDEC, Ministério da Cultura e Governo Federal.

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