Em encerramento da programação, Festival homenageia Marcos Magalhães, um dos maiores animadores do Brasil
No último dia do Festival Infantil de Cinema de Animação de Rondônia – FICAR 2ª Edição, realizado na última sexta-feira (29) na Escola Estudo e Trabalho, em Porto Velho, os bastidores da sétima arte foram colocados em pauta. Mais do que exibir filmes, a programação levou alunos e educadores a refletirem sobre o processo de criação por trás de uma animação, em um bate-papo com os cineastas rondonienses Juraci Júnior e Édier William, que tiveram seus filmes exibidos durante o festival.
Em meio aos desafios de se produzir cinema na Amazônia, os dois compartilharam suas experiências em uma roda de conversa que mostrou aos jovens como a arte pode se tornar ferramenta de resistência, crítica social e identidade cultural. A atividade também contou com uma homenagem especial ao cineasta Marcos Magalhães, criador do Anima Mundi e referência internacional na animação brasileira.
Magalhães não pôde estar presente, mas enviou um vídeo diretamente de seu espaço de trabalho, entre rascunhos e projetos em andamento. “Para mim é uma imensa honra receber esta homenagem, que divido com a minha família, meus alunos, colegas animadores e professores. O reconhecimento por um público infantil é muito importante, ainda mais em um festival amazônico que acontece numa região plena de histórias e personagens, que já estão vivos na imaginação e ficarão ainda mais poderosos quando transformados por estes jovens animadores em filmes de animação”, disse o cineasta.
Cinema que toca e transforma
Para dar a tônica do debate, foram exibidos os curtas “Nazaré: do Verde ao Barro”, de Juraci Júnior, e “Planeta Fome”, de Édier William. O impacto foi imediato: até os estudantes mais dispersos se endireitaram nas cadeiras para acompanhar a densidade das histórias.
Mediada pela coordenadora pedagógica do festival, Carmela Tacaná, a roda de conversa girou em torno de perguntas sobre carreira, uso de inteligência artificial, roteiro e, sobretudo, o sentido de se produzir cinema. “O cinema como arte é uma forma de expressão e deveria ser mais valorizado no dia a dia. Saber que temos animações feitas por cineastas da nossa cidade é inspirador”, disse Ian Lima, estudante do ensino médio.
O mesmo sentimento de inspiração foi destacado por Gustavo Chaves, que já participou de oficina ministrada por Magalhães: “Achei muito legal e interessante porque não é sempre que temos a oportunidade desse contato. Isso incentiva a expressar talentos que a gente nem sabia que tinha. Foi assim comigo na oficina do Marcos, aprendi muito com ele”.
Vozes do festival
Para Édier William, levar sua obra às escolas é o que dá sentido à produção. “Depois de todos os desafios enfrentados, o público ter acesso ao que a gente produz é algo que nos enche de orgulho. “Planeta Fome” nasceu da urgência de discutir um problema real, que não pode esperar: quem sente fome não pode esperar por amanhã. Fazer esse debate dentro da escola é fundamental”.
Juraci Júnior reforçou a importância da representatividade. “O FICAR aproxima a arte e essa identidade que a gente busca trabalhar. Quando o público reage, se emociona, se reconhece na tela, isso é muito potente. Esses estudantes podem se ver como futuros criadores. Olhar nos olhos deles e trocar experiências foi essencial”.
Para os alunos, a experiência foi reveladora. “A gente nunca pensa que vai sair uma animação daqui de Porto Velho. Hoje essa vivência quebra a visão que se tem da nossa cultura”, comentou Ana Eloise. Já Laís Maria destacou a relevância do FICAR: “Ter esse contato dentro da escola é um privilégio, algo que normalmente é muito difícil de acontecer”.
Do dia 25 a 29 de agosto, o FICAR percorreu escolas da rede pública em Rondônia, tendo passado por Guajará-Mirim, Nova Mamoré, e encerrando a programação em Porto Velho. A iniciativa aproxima crianças e adolescentes da linguagem cinematográfica e provoca reflexões sobre suas próprias vivências por meio da arte. Ao avaliar o encerramento da edição, a coordenadora do festival, Izadora Jemima, destacou o sucesso da proposta. “Nosso objetivo sempre foi democratizar o acesso ao cinema e estimular o olhar crítico desde cedo. Encerrar com essa troca entre cineastas, alunos e professores só reforça que o FICAR está cumprindo seu papel”, concluiu.
O festival foi realizado pela Associação Ambientalista Verde Vida, com recursos da Lei Paulo Gustavo (Edital nº 06/2024 – SEJUCEL/SIEC), e contou com apoio do Governo do Estado de Rondônia, FEDEC, Ministério da Cultura e Governo Federal.