COLUNA ZONA FRANCA

 Ah, esse Bolsonaro…

Fez um evento para municiar a PF de mais provas, dessa vez, a cereja do bolo. A PF avalia que discurso de Bolsonaro em ato na Paulista reforça apuração sobre golpe, disse a Folha de S. Paulo. De acordo com investigadores, fala sugere que ex-presidente tinha conhecimento de minuta golpista para evitar posse de Lula.

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Bolsonaro negou que tenha tentado dar um golpe de Estado e disse que agiu dentro dos limites da Constituição em protesto em São Paulo no domingo (25/2). O ex-presidente também afirmou estar em busca de “pacificação” do país e que deseja “passar uma borracha no passado”. O ato, que reuniu milhares de apoiadores de Bolsonaro na avenida Paulista, foi convocado pelo ex-presidente em meio ao avanço das investigações da Polícia Federal (PF) sobre um suposto plano de golpe de Estado. De acordo com a PF, há indícios de envolvimento de Bolsonaro e de alguns de seus então auxiliares para reverter o resultado das eleições que levaram Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Planalto.

Até tu, Brutus?

A ex-deputada estadual Janaina Paschoal (PSDB-SP), bolsonarista roxa, não foi e não gostou do espetáculo de humor que foram as manifestações de ontem, na Paulista. Ela disse no X: “Respeitando opiniões divergentes, eu vejo, com clareza, um novo teatro das tesouras. Duas pontas que se retroalimentam e, guardadas as particularidades, funcionam de forma muito parecida. Ambas têm seus fiéis, que veem crimes na outra ponta, ambas têm seus atos de dramatização e despedida. Uma ponta brinca de fazer calar a outra. Antes, eu tinha pena do povo, que acredita nesse teatro. Hoje, vejo que o povo gosta e também se alimenta disso. Pobre daquele que pensa que essa representação os aniquila mutuamente. Esse teatro os mantém vivos e eles sabem disso!”. E o prêmio de melhor atriz vai para Michele Bolsonaro.

Pastor? Homem de Deus?

A maioria dos oradores manteve um discurso ameno (com medo da Papuda), mas, o “homem de Deus”, o “ungido do Senhor”, pastor evangélico bolsonarista Silas Malafaia, foi o que espargiu mais ódio, sem medo de ir para o inferno. Malafaia admitiu a possibilidade de prisão de Jair Bolsonaro.  Ele ainda ameaçou, dirigindo-se a Bolsonaro: ‘Se eles te prenderem, você vai sair de lá exaltado. Se eles te prenderem, não vai para a tua destruição, mas para a destruição deles’.

O máximo

Quem esteve por lá foi o pré-candidato a prefeito de Porto Velho, deputado federal Dr. Fernando Máximo (União Brasil), produzindo vídeos para a campanha. A também pré-candidata Mariana  Carvalho (Republicanos) não foi, mas divulgou vídeos enviados pelo irmão que foi, deputado Maurício Carvalho (União Brasil). Thiago Flores (MDB), Cristiane Lopes (União Brasil) e Crisóstomo (PL) também foram ao evento, assim como os senadores Marcos Rogério e Jaime Bagatolli, ambos do PL de Rondônia. A presença de mais da metade da bancada federal (cinco deputados e dois senadores) é a prova de que pelo menos 75% dos eleitores rondonienses são bolsonristas. Errados não estão. Eles passam pano para os atos terroristas ocorridos em 8 de janeiro de 2023, referendando um quase golpe de estado que só não ocorreu porque os militares não quiseram participar com armas e tanques.

Amoedo ameaçado

Como são pacíficos e amorosos esses bolsonaristas. Uns amores. Que o diga João Amoedo, ex-presidente do Partido Novo. Ao expressar que  “o ex-presidente deveria ser preso”, após a realização do ato deste domingo na Avenida Paulista, foi ameaçado por um seguidor de Bolsonaro. Ele revelou que irá levar o caso à polícia e acionará o Poder Judiciário. “Ameaças como essa são criminosas e inaceitáveis. Farei o registro na Polícia e acionarei a Justiça”, postou João Amoêdo, um dos principais críticos do ex-presidente Bolsonaro.

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Segundo o empresário João Amoêdo, o ex-presidente Bolsonaro confessou seus crimes e defendeu anistia para ele e os invasores dos três poderes nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro. “Após Bolsonaro confessar que havia uma minuta do golpe e pedir anistia aos “manifestantes” de 8/1 – assumindo então que eles são culpados – fica ainda mais óbvio que o ex-presidente deveria ser preso”, postou o político no X, antigo Twitter.

                                                A reitora 

Na última semana, em fevereiro de 2024, Mariana Carvalho se tornou Reitora do centro universitário FIMCA, onde a ex-deputada federal se formou há alguns anos em Medicina, enquanto era também vereadora de Porto Velho. Ela terá que lidar com um antigo problema da entidade. É que, conforme parecer do Ministério Público de Rondônia no processo, a unidade de ensino superior foi construída em área que pertence ao município, portanto, de uso comum de toda a população portovelhense.

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De acordo com a Certidão de Inteiro Teor do 1º Serviço Registral da Comarca de Porto Velho, a área de 18.953,80 m² (dezoito mil, novecentos e cinquenta e três metros e oitenta centímetros quadrados) é destinada a Parque Público de Lazer. No sistema de Administração Tributária a situação cadastral indicava-se que o terreno é área verde. Quem sabe, a primeira promessa de campanha da pré-candidatura de Mariana Carvalho possa ser devolver o terreno público que a empresa se apropriou. A instituição é propriedade familiar e se expandiu com os benefícios do Governo Lula, por meio do PROUNI e FIES.

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A FIMCA também, cresceu graças a benefícios fiscais concedidos pela Prefeitura de Porto Velho. Esses benefícios, ademais, vem sendo contestados pelo TCE/RO. Em 2022, o fato veio a tona mais uma vez. Os dois donos da empresa são os pais de Mariana Carvalho: Aparício e Maria Carvalho. O pai, Aparício, também foi suplente da filha na disputa ao Senado. O então vice-prefeito de Porto Velho, cidade que concedeu e manteve por tempo o benefício fiscal questionado pelo TCE/RO, é Maurício Carvalho, irmão de Mariana.

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Maurício Carvalho hoje é deputado federal e, a despeito dos benefícios que os governos do PT concederam às suas empresas familiares, recentemente pediu o impeachment de Lula e esteve nas “manifestações” em São Paulo, neste domingo. Pelo jeito, o assunto do terreno da FIMCA vai ser explorado pel campanha eleitoral de 6 de outubro de 2024.

Novela boliviana

Em um episódio digno de uma novela mexicana, mas que acontece na fronteira do Brasil com a Bolívia, a então prefeita de Guajará-Mirim, Raissa Bento (MDB), junto com seu marido e o chefe de gabinete, foram convidados a se retirar de seus cargos. A cortesia foi estendida pelo Ministério Público de Rondônia e a Polícia Civil, durante a chamada Operação Avatar. Parece que estavam todos muito ocupados, mas não exatamente com o que deveriam. Os delitos investigados soam como um menu degustação de ilegalidades: corrupção passiva, associação para chá no sistema prisional, fraude processual, nomeação de amigos para o happy hour da prefeitura, usurpação de função pública, criação de documentos mais falsos que nota de três reais e desacato, porque, afinal, ninguém é de ferro.

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O MP-RO, em sua nobre missão de estragar a festa, expediu seis mandados de busca e apreensão e três convites para se ausentar do serviço, com o bônus de não poderem mais trocar figurinhas com testemunhas e vítimas ou dar rolês pelos corredores do poder. Quem diria que a administração pública poderia ser tão emocionante? Todo dia a claque da Prefeita afastada anuncia seu retorno ao cargo. O fato incontestável é que a operação de afastamento do grupo do poder já completou um mês. Além disso, a busca e apreensão de documentos, aparelhos de telefone e grampos ainda vão dar muito pano para manga!

(*) Roberto Kuppê é jornalista e articulista político

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