Por Edson Silveira (*)
Se há uma característica que define a direita brasileira, especialmente essa extrema-direita delirante que tomou conta do cenário político nos últimos anos, é a sua capacidade de distorcer princípios conforme a conveniência. Nada mais simbólico desse fenômeno do que a reviravolta espetacular em relação à Lei da Ficha Limpa.
Lembremos: essa mesma direita, que hoje quer revogar a lei, já fez dela um verdadeiro dogma, uma bandeira inegociável, uma cruzada moral contra “a corrupção do PT”. Durante anos, usaram a Ficha Limpa como arma para perseguir lideranças progressistas, interditar candidaturas e, sobretudo, atacar o presidente Lula. Para essa turma, a moralidade pública era um valor absoluto – desde que servisse para eliminar adversários políticos.
Mas eis que o vento virou, e agora os paladinos da ética entraram em pânico. Diante da iminente inelegibilidade de Jair Bolsonaro e de alguns outros expoentes da direita, resolveram que a tal Lei da Ficha Limpa, antes sagrada, agora é um problema. Estão desesperados para revogá-la ou, pelo menos, “flexibilizá-la” – eufemismo para dizer “livrar a cara dos nossos”.
A ironia é escandalosa: aqueles que batiam no peito para dizer que “bandido bom é bandido preso” agora fazem malabarismos para proteger os seus próprios bandidos. Os que exigiam que petistas fossem banidos da vida pública com base em processos duvidosos agora querem rasgar a legislação para salvar Bolsonaro de uma punição legítima. Onde está a coerência? Onde foi parar aquele discurso inflamado de que “a lei é para todos”?
O cinismo dessa gente não tem limites. Enquanto tentam apagar o passado de rachadinhas, fake news, golpes frustrados e ataques às instituições, querem que o Brasil engula a mentira de que a Lei da Ficha Limpa só era válida quando servia contra Lula e o PT. Agora que os investigados e condenados estão do outro lado do espectro político, o jogo mudou.
Em Rondônia, a situação não é diferente. Parlamentares como Sílvia Cristina, Lebrão, Crisóstomo, Maurício Carvalho, Cristiane, Fernando Máximo e Thiago Flores apoiam medidas que buscam flexibilizar a Lei da Ficha Limpa, uma clara tentativa de proteger seus próprios interesses e os de aliados. Esses deputados federais, que deveriam zelar pela integridade da legislação, estão na linha de frente dessa imoralidade, defendendo mudanças que beneficiam políticos condenados por crimes graves.
Mas o que isso revela? Simples: a direita brasileira nunca esteve preocupada com ética ou moralidade. Sempre foi um projeto de poder baseado na conveniência, na manipulação e no ódio seletivo. Quando a lei os beneficia, é “justiça”; quando os prejudica, é “perseguição política”.
Felizmente, a sociedade já percebeu esse truque barato. A tentativa de destruir a Ficha Limpa é um atestado de desespero e uma confissão pública de que essa gente nunca teve compromisso com o país – apenas com seus próprios interesses.
Resta saber se conseguirão mais essa manobra ou se a máscara, desta vez, caiu de vez. É inaceitável que figuras como Sílvia Cristina, Crisóstomo, Maurício Carvalho, Cristiane, Fernando Máximo, Lebrão e Thiago Flores estejam na vanguarda dessa excrescência. A sociedade não pode permitir que a ética seja pisoteada em nome da conveniência política. Chega de hipocrisia!
(*) Edson Silveira, advogado, administrador, professor aposentado e vice-presidente estadual do PT em Rondônia