Por Edson Silveira
Em Porto Velho, algumas coisas nunca mudam — infelizmente. Bastaram pouco mais de 100 dias de gestão para que rumores de bastidores começassem a tomar corpo. A última notícia que circula nos corredores do poder é de que alguns vereadores estariam armando um precoce pedido de impeachment contra o prefeito Léo Moraes (Podemos), sob a justificativa de suposto superfaturamento na aquisição de produtos pela Prefeitura. Até aí, tudo certo. Se houver irregularidade, que se investigue com o devido rigor, e que se responsabilize quem tiver culpa no cartório. A lei é para todos.
O problema é o “porém”. E é aí que o enredo deixa de ser institucional para se tornar tragicômico: os mesmos vereadores — ou parte deles — estariam exigindo mais de 20 cargos em troca da tal “governabilidade”. Sim, isso mesmo. Não se trata de amor à cidade, zelo pelo erário ou espírito público. A moeda de troca é o velho e carcomido “toma lá, dá cá”. Quase dá vontade de rir, se não fosse tão vergonhoso.
Essa prática, digna de um balcão de negócios de quinta categoria, remete à velha política, onde cargos valem mais do que projetos e favores pesam mais do que votos. E o mais irônico: tudo isso vindo de uma Câmara que não conta com nenhum vereador eleito pelo partido do atual prefeito. Justamente por isso, Léo Moraes enfrenta hoje uma realidade diferente da vivida por seu antecessor, Hildon Chaves (PSDB), que governou por oito anos sem grandes embates com o Legislativo. Teria sido por harmonia institucional… ou por que a partilha de cargos fluía bem?
Faço críticas pontuais à gestão de Léo Moraes — como qualquer cidadão consciente deve fazer —, mas não se pode negar que, em pouco mais de três meses, ele entregou mais do que muita gente esperava. Resolveu problemas pontuais de alagamentos, herdou o caos do saneamento básico e já deu os primeiros passos para enfrentá-lo. Em 100 dias, demonstrou trabalho, algo que pode estar ofuscando o brilho da antiga gestão — bem avaliada, é verdade, mas que também deixou um rastro de pendências.
Aproveito para deixar público algo que digo sem hesitação: conheço Léo Moraes, sua trajetória e sua índole. É um homem de palavra, que cumpre o que promete e honra os acordos que faz. Acredito sinceramente na honestidade de seus propósitos, na vontade sincera de fazer o melhor por Porto Velho, e isso aumenta ainda mais minha indignação diante de tentativas rasteiras de desestabilizar sua gestão por interesses pouco republicanos.
Diante do cenário, o prefeito precisa tomar a única atitude digna de quem quer governar com seriedade: comprar a briga. Enfrentar os chantagistas, expor suas exigências e torná-las públicas. Citar nomes. E mais do que isso: acionar a Justiça, pedir providências ao Ministério Público, e convocar a sociedade a acompanhar de perto os atos do Legislativo. Ceder, neste caso, é sinal de fraqueza institucional. Silenciar é compactuar. Mas reagir com firmeza, coragem e transparência pode ser o passo necessário para virar o jogo a favor da ética e da moralidade na política local.
Porto Velho não pode continuar sendo governada à base de barganhas e conchavos.
Se há algo errado na gestão municipal, que se apure. Mas que isso não seja pretexto para negociatas de gabinete. A cidade precisa de uma Câmara que fiscalize, não que lote cargos com apadrinhados. Chega de cinismo. Chega de hipocrisia. Porto Velho merece mais — e melhor.
Edson Silveira – advogado, administrador, professor e vice-presidente estadual do PT em Rondônia.