A Fiocruz lançou, na terça-feira (16/12), o Centro de Clima e Saúde em Rondônia (CCSRO), instalado na nova sede regional da Fundação em Porto Velho (RO), também inaugurada hoje. Considerado um dos legados da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), o Centro tem como objetivo ser um polo de inovação, formação e pesquisas sobre a conexão entre a saúde, a emergência climática e as dinâmicas socioambientais na Amazônia.

O lançamento reflete a preocupação crescente e um compromisso da Fiocruz com a agenda climática e de saúde (foto: Divulgação)
Por meio de parcerias com órgãos governamentais, agências de cooperação e iniciativas da sociedade civil, o Centro visa se consolidar como de excelência em pesquisa, planejamento, implementação, monitoramento e avaliação de políticas públicas em saúde e clima na Amazônia. Ao integrar diferentes áreas do conhecimento, a proposta é contribuir de forma estratégica para a tomada de decisão em saúde pública na região e constitui as Estratégias da Fiocruz para Clima e Saúde e para a Agenda 2030 (EFA 2030). Além disso, busca valorizar a sabedoria local dos povos originários e das populações ribeirinhas, promovendo sua incorporação às práticas científicas.
O lançamento reflete a preocupação crescente e um compromisso da Fiocruz com a agenda climática e de saúde. O Centro também segue a trajetória histórica da Fiocruz no reconhecimento das inter-relações entre saúde, tecnologia e inovação refletida na atuação de seus pesquisadores no território da Amazônia Ocidental.
“É uma iniciativa estratégica para enfrentar esses desafios e seus impactos nas condições de vida e saúde da população, em especial da Amazônia”, afirma o presidente da Fiocruz, Mario Moreira. Ele enfatiza ainda o alinhamento do novo Centro ao Plano Setorial de Adaptação à Mudança do Clima (AdaptaSUS), o que reforça a atuação do Sistema Único de Saúde (SUS) em territórios e comunidades vulneráveis aos riscos climáticos, com a finalidade de resguardar a saúde e o bem-estar, respeitando os modos de vida dos povos e comunidades tradicionais.
“Mais do que a inauguração da nova sede da Fiocruz Rondônia e da inauguração do Centro de Clima e Saúde em Rondônia, esse momento representa a consolidação da Fiocruz na Amazônia. Há alguns anos, a Fundação decidiu criar uma estrutura que pudesse desenvolver a ciência e tecnologia localmente e diálogo pleno com os conhecimentos tradicionais que são produzidos aqui. É disso que se trata a Fiocruz […] Esse Centro representa uma articulação institucional poderosa – o que se trata aqui é de um arranjo institucional com muitos parceiros para unir conhecimentos necessários para abordar os desafios das mudanças climáticas”, comentou Moreira.
O Centro vai atuar ainda como referência em vigilância sanitária e na busca de soluções para os agravos de saúde relacionados ao desmatamento e às mudanças climáticas. Entre suas linhas principais de atuação estão pesquisas coparticipativas nos territórios sobre os determinantes socioambientais da saúde, doenças emergentes e o desenvolvimento do conceito de Saúde Única.
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, ratificou que a democracia e o clima são os grandes desafios contemporâneos da saúde. “A crise climática é, acima de tudo, uma crise de saúde pública. O impacto da mudança climática na vida das pessoas é a face mais dolorosa e talvez a mais visível dessa crise. O que por muitos anos era uma projeção, nos últimos anos vai ficando mais evidente que todos nós hoje estamos em risco. E, no Brasil, estamos vivendo isso do Oiapoque ao Chuí, de Porto Velho a João Pessoa”, disse. “Estou muito feliz por esse presente que a Fiocruz está dando para essa agenda. Esse investimento coloca Rondônia como o primeiro Centro de Clima e Saúde da Fundação Oswaldo Cruz”.

Autoridades participam de cerimônia de inauguração do Centro e da nova sede da Fiocruz em Rondônia (foto: Divulgação)
O coordenador da Fiocruz Rondônia, Jansen Fernades Medeiros, descreveu o momento como o “início de um legado construído com responsabilidade, compromisso e esperança”. “Há 16 anos, nascia oficialmente a Fiocruz Rondônia, que nasceu do sonho de fortalecer a pesquisa em saúde no estado e inserir Rondônia na rota da ciência nacional e internacional […] A criação do Centro de Clima e Saúde de Rondônia representa um passo importante no enfrentamento dos impactos das mudanças climáticas na saúde”, comentou.
Coordenador da Estratégia Fiocruz Para Agenda 2030, Paulo Gadelha complementou dizendo que “o ineditismo do que hoje acontece aqui está relacionado à resposta contemporânea ao problema central que enfrentamos de crise climática e ao fato de que, pela primeira vez, nós temos um Centro que vai reunir todos os elementos dos dados, da pesquisa e da questão climática. É um Centro que integra desde a pesquisa à ação concreta no processo de constituição da resiliência no SUS”.
“O cuidado com o território em momentos críticos se faz extremamente necessário. Com a criação de mais uma ferramenta, a facilidade de obtenção de indicadores e dados, em tempo hábil, melhora a gestão e assim podemos lidar com as crises de forma mais pró-ativa possível”, declarou o diretor geral da Agência Estadual de Vigilância em Saúde de Rondônia (Agevisa), Gilvander Gregório de Lima. “Tecnologias de mensuração precisam estar disponíveis aos agentes de decisão para avaliação e tomadas de decisões, para que possam organizar fluxos céleres e objetivos, delegando tarefas e otimizando recursos com a intenção de amenizar as consequências dos impactos diretos sobre a saúde da população. A criação do Centro de Clima e Saúde em Rondônia, como referência, vem atender diretamente esta nova demanda crítica climática a qual, com certeza e infelizmente, fará parte do cotidiano da Amazônia”.
Pró-reitor de Pós-Graduação e Pesquisa da Universidade Federal de Rondônia (Unir), Juliano Cedaro registrou a importância da união de várias instituições na construção do Centro. “Tenho expectativas bastante positivas em relação a implantação desse espaço, pois representa a esperança de que, por meio das parcerias entre instituições altamente capacitadas, possamos encontrar soluções exequíveis para enfrentarmos as ameaças para a saúde humana decorrente das mudanças climáticas, cada ano mais intensas e de efeitos imprevisíveis”, reforçou.
O espaço também vai atuar na capacitação e no treinamento de profissionais para o monitoramento e resposta a eventos climáticos. Além disso, o Centro pretende se consolidar como um hub de inovação e atração de investimentos, estimulando parcerias com empresas, instituições acadêmicas e órgãos governamentais. Dessa forma, fortalecerá a ciência e tecnologia, tornando-se uma referência na integração entre saúde, clima e desenvolvimento socioeconômico sustentável.
O secretário de Saúde do Estado de Rondônia, Jefferson Rocha, narrou que “recentemente, vivemos um cenário caótico e só quem estava cuidando diretamente da saúde pública conseguiu perceber ainda mais as consequências da crise climática […] A partir disso, surgiu um grande movimento junto à Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), para montar um trabalho sustentável e que, caso ocorra um caso desse no futuro, a gente possa ter soluções mais rápidas para salvar essas pessoas. Por isso é tão importante trazer a Fiocruz e esse Centro de Clima e Saúde para cá”. Ele representou o governador do Estado de Rondônia, Coronel Marcos Rocha, no encontro.
Os pesquisadores envolvidos na criação do novo Centro buscam estabelecer um modelo de gestão baseado na adesão e participação ativa das comunidades acadêmicas e científicas locais, incluindo os que atuam nas instituições parceiras da Fiocruz na região amazônica. Também estão previstos acordos de cooperação interinstitucional (nacionais e internacionais), além da colaboração de movimentos sociais e representações dos povos originários e comunidades tradicionais da Amazônia, para desenvolver ações de enfrentamento dos desafios impostos pelas mudanças climáticas globais.
A mesa da cerimônia também foi composta pelo senador da república, Confúcio Moura; pelos deputados federais Maurício Carvalho e Lucio Mosquini; pela deputada estadual Claudia de Jesus; e pela reitora da Universidade Federal de Rondônia (Unir), Marília Pimentel.



