27 C
Porto Velho
sábado, junho 7, 2025

ONU denuncia violações graves aos direitos das crianças no Brasil e cobra ação imediata do Estado

 

Por Informa Rondônia

Em um relatório contundente divulgado nesta quarta-feira (5), o Comitê das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança (CRC) denunciou uma série de violações sistêmicas cometidas contra crianças no Brasil — com especial gravidade no que se refere à violência letal, ao racismo estrutural, às desigualdades socioeconômicas e aos retrocessos legislativos.

O documento, resultado da avaliação dos relatórios periódicos submetidos pelo país à ONU, classifica a situação como “alarmante” e exige medidas urgentes e estruturais por parte do Estado brasileiro. A avaliação foi adotada no dia 30 de maio de 2025 e representa uma das críticas mais severas já emitidas contra o Brasil no campo dos direitos da infância.

⚠️ Violência letal contra meninos negros: uma tragédia anunciada

Entre os pontos mais graves do relatório está a denúncia da violência sistemática contra crianças afro-brasileiras. Segundo o Comitê, o país enfrenta um “nível extremamente alto de letalidade” infantil, agravado por operações policiais em favelas, desaparecimentos forçados e execuções extrajudiciais cometidas por agentes do Estado.

A ONU exige que o Brasil:

Torne obrigatório o uso de câmeras corporais por policiais, com revisão imediata da Portaria nº 648/2024 do Ministério da Justiça.

Eleve o Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte (PPCAAM) a política nacional, com força de lei.

Investigue, puna e dê publicidade aos casos de violência letal contra crianças.

Crise climática e colapso ambiental: “as crianças estão pagando a conta”

O Comitê expressou preocupação com os impactos das mudanças climáticas e da degradação ambiental sobre a saúde, segurança e sobrevivência de milhões de crianças — especialmente indígenas, quilombolas e ribeirinhas. A devastação da Amazônia e do Cerrado foi apontada como ameaça direta aos direitos fundamentais da infância.

A ONU cobrou:

A ratificação urgente do Acordo de Escazú.

A inclusão da infância nas políticas climáticas, inclusive com participação ativa de crianças nos planos de ação.

A proibição do garimpo e exploração ilegal de terras em territórios indígenas, dada sua correlação direta com mortalidade infantil, doenças e fome.

⚖️ Justiça juvenil e retrocessos legislativos: “inaceitáveis”, diz ONU

O Comitê foi enfático ao condenar projetos de lei que buscam reduzir a maioridade penal ou ampliar penas para adolescentes. Classificou essas propostas como regressivas e incompatíveis com os tratados internacionais ratificados pelo Brasil.

O relatório também denuncia:

Superlotação e violência nos centros socioeducativos.

Racismo institucional no sistema de justiça juvenil.

Abusos e violações cometidas contra meninas privadas de liberdade, incluindo casos de violência de gênero e gravidez sob custódia.

⚕️ Saúde mental e reprodutiva: Brasil falha com adolescentes

Em outro ponto sensível, a ONU denuncia a ausência de uma política nacional sobre saúde sexual e reprodutiva para adolescentes. O comitê expressa “séria preocupação” com a criminalização de meninas vítimas de violência sexual que buscam o direito ao aborto legal.

Entre as recomendações:

Descriminalização do aborto em todas as circunstâncias.

Inclusão da educação sexual no currículo escolar.

Ampliação da rede de acolhimento para vítimas de estupro, com garantia de aborto seguro e acompanhamento psicológico.

Pobreza estrutural e negligência histórica

Apesar de ser classificado como país de renda média-alta, o Brasil permanece marcado por profundas desigualdades regionais e raciais. O Comitê aponta que crianças negras, indígenas e periféricas continuam a viver em níveis alarmantes de pobreza, fome e exclusão.

A ONU pede:

Ampliação do Bolsa Família, BPC e programas de habitação.

Adoção de políticas redistributivas urgentes, com foco nos territórios mais vulneráveis.

Fortalecimento da alimentação escolar com produtos da agricultura familiar, sobretudo de mulheres rurais.

✊ Grupos sob ataque: indígenas, trans, migrantes e crianças com deficiência

O documento também denuncia a ausência de medidas efetivas para proteger:

Crianças indígenas em isolamento voluntário.

Crianças transgênero vítimas de discriminação e violência.

Migrantes e refugiados em situação irregular.

Crianças com deficiência institucionalizadas ou sem acesso a educação inclusiva.

A ONU cobra que o Brasil:

Proíba cirurgias desnecessárias em crianças intersexo.

Garanta políticas específicas para crianças com Síndrome Congênita do Zika e Transtorno do Espectro Autista.

Regularize o acesso à documentação para crianças migrantes e garanta políticas de acolhimento.

Educação em risco: militarização e evasão escolar

Apesar dos avanços recentes, o relatório critica a militarização de escolas públicas e a persistência da evasão escolar entre meninas grávidas ou mães adolescentes. A ONU recomenda:

Implementação imediata do Novo Plano Nacional de Educação (2024–2034).

Ampliação da educação infantil na região Norte.

Proibição definitiva de operações policiais próximas às escolas.

 

“Infância brasileira em risco”, alertam especialistas

Para o professor Vinicius Miguel a expectativa é de resposta do Executivo, do Judiciário e do Parlamento com a adesão dos apontamentos.

“Este documento tem peso político e jurídico. Esperamos que seja usado por movimentos sociais, defensorias, Ministério Público e até pelo STF para fazer valer os direitos da infância”.

O que acontece agora?

O Brasil deverá apresentar resposta oficial e plano de ação aos organismos internacionais nos próximos meses. O Comitê da ONU recomenda que as conclusões sejam amplamente divulgadas em linguagem acessível às próprias crianças e acompanhadas por instâncias independentes, como defensorias e conselhos tutelares.

Últimas

- Publicidade -
- Publicidade -

Relacionadas