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terça-feira, outubro 21, 2025

Pesquisas, egos e blefes: o xadrez político rondoniense em ebulição

POR: ROBSON OLIVEIRA (*)

PESQUISA

A recente sondagem do Real Time Big Data sobre as eleições de 2026 em Rondônia trouxe mais interrogações do que certezas. Os números, analisados sem paixões, mostram um cenário de inquietude entre os pré-candidatos ao governo e ao Senado. Ninguém pode cantar vitória: a distância entre os principais nomes é mínima, beirando o empate técnico. A lição é antiga: o eleitor rondoniense, pragmático e desconfiado, costuma decidir o voto quando a urna já está piscando. Ou seja, até lá, todos são reféns do improviso.

GOVERNO

Se Marcos Rogério, Fernando Máximo, Adailton Fúria, Hildon Chaves e Confúcio Moura realmente resolverem disputar o governo, terão de suar as camisas — e os egos. A disputa está aberta, sem messias nem heróis, e a pesquisa mostra que o segundo turno será um campo minado, onde a arrogância costuma ser o primeiro cadáver político.

FANTASIA

O levantamento também expõe a surpreendente resiliência eleitoral de Ivo Cassol, ainda que juridicamente interditado pela Lei da Ficha Suja. O ex-governador lidera, mas com vantagem tão pequena que cabe num grão de arroz. Sua popularidade é um eco longínquo de um passado em que bravatas rendiam manchetes e votos. Hoje, seus grunhidos perderam o alcance. O tempo, que cura quase tudo, não perdoa o estilo coronelesco — nem a plateia que envelheceu e já não se impressiona com o velho espetáculo.

BLEFE

A candidatura da caçula de Cassol ao governo é, como quase tudo na militância política do cassolismo, um blefe. Cassol não suporta o ostracismo e inventa factóides como quem respira. Já desfilou até com uma máquina de solda elétrica, jurando ter curado um amigo de Covid. O folclore político local é fértil, mas até o realismo mágico tem limites. Cassol acredita ser uma figura divina onde todos devem lhe beijar as mãos.

INCURÁVEL

Cassol gosta de bajulação e destilar desaforos. Ser barrado pela Justiça Eleitoral deveria servir de lição, mas nem com “solda elétrica no couro” ele se cura. Continua recebendo romarias de políticos em busca de bênçãos, churrasco e autopromoção. Um espetáculo de subserviência e adoração.

DEPENDENTE

O deputado federal Fernando Máximo, nome de bom recall eleitoral, sofre de uma dependência crônica: precisa que os caciques partidários decidam o seu destino. No grupo de Marcos Rogério, será candidato ao governo se o senador disputar o Senado; e vice-versa. Máximo repete o erro do passado — o mesmo que o fez perder a candidatura à prefeitura de Porto Velho para Mariana Carvalho. Como diz o ditado adaptado à geopolítica do Centro-Oeste: errar é humano, insistir é coisa de goiano — e o deputado, recorde-se, é de Goiás.

SENADO

A disputa pelas duas vagas ao Senado promete ser a mais feroz da história recente rondoniense. Fernando Máximo, Marcos Rogério, Sílvia Cristina, Confúcio Moura, Marcos Rocha e o surpreendente Delega Camargo surgem num mesmo tabuleiro, com forças semelhantes. Ninguém é favorito — e, por isso mesmo, todos se consideram imbatíveis. Um festival de vaidades onde o eleitor é coadjuvante. Camargo, por ora, é o nome novo que cresce em meio à mesmice. Mas ainda precisa provar que não é apenas uma onda passageira.

ALIANÇAS

Na política, alianças são como remédios fortes: em dose errada, matam o paciente. Em Rondônia, a história recente é farta em uniões improváveis que o eleitor tratou de sepultar nas urnas. Misturar ambições inconciliáveis e esperar harmonia é como tentar fundir óleo e água. Dá manchete, mas não dá voto.

CENÁRIO

Nos bastidores, cresce o rumor de que o ex-prefeito Hildon Chaves pode desistir da disputa ao governo e tentar vaga na Câmara Federal. Se o fizer, dificilmente perde — seu capital eleitoral em Porto Velho é expressivo. Mas o maior obstáculo de Hildon não é o eleitor: é o próprio ego. Egocêntrico por natureza, terá de aprender o que políticos raramente entendem — que o desprendimento, às vezes, é mais rentável que a soberba. E, quem sabe, até o interior aprenda a simpatizar com o ex-prefeito da capital.

REUNIÃO

O encontro entre Marcos Rocha e Expedito Júnior rendeu dois capítulos: o primeiro, a especulação. O segundo, o nada. Conversaram por horas, falaram com Gilberto Kassab por telefone e saíram sem acordo. Política rondoniense é isso: muito café, pouca decisão. Rocha recebeu o convite para ingressar no PSD, mas não demonstrou interesse em sair do União Brasil.

ACIR

O ex-senador Acir Gurgacz mandou carta à coluna: garante que sua inelegibilidade acaba em 26 de fevereiro de 2026, portanto, antes das eleições. Se for verdade, estará livre para concorrer. A nota é longa — e o registro, obrigatório. No entanto, pelos cálculos deste cabeça-chata a recuperação dos direitos políticos do ex-senador seria 19 de setembro de 2026, data após o registro das candidaturas.

RECONDUÇÃO

O Tribunal de Contas do Estado reconduziu Wilber Coimbra à presidência da instituição. A decisão não surpreende: trata-se de um conselheiro que alia inteligência, discrição e raro senso de dever público — qualidades que, em Rondônia, já são quase exóticas. Wilber é daqueles servidores que engrandecem o cargo sem precisar alardear virtudes ou posar de moralista. Num estado onde a liturgia do poder político costuma ser confundida com autopromoção, sua condução serena é um alívio. Quem agradece é o cidadão rondoniense, cansado de escândalos e carente de referências éticas minimamente sólidas.

INCENDIÁRIO

O vereador  Marcos Combate faz jus ao nome que ostenta. Transformou o mandato em uma cruzada pessoal contra a administração municipal –  usou o plenário, em campo de batalha. Denuncia sem tréguas, fala com a convicção de quem sempre está certo e parece encontrar prazer  em ver fumaça, mesmo quando não há fogo.

RETÓRICA

Segundo ele, suas denúncias já salvaram o município de incontáveis malfeitos. Curiosamente, nenhuma das supostas ilegalidades se confirmou. Houve, sim apontamentos do Tribunal de Contas, todos corrigidos conforme recomendações. Mas entre uma irregularidade administrativa e um ato de improbidade há um oceano – que o vereador atravessa a nado, movido mais pela retórica do que pelos fatos.

CREDIBILIDADE

Fiscalizar  é dever constitucional, e Combate o faz com energia rara em tempos de apatia política. O problema está na forma. Confunde vigilância com vendeta, e transforma cada discurso em espetáculo. Ao tratar falhas de gestão como escândalo de Estado, banaliza o próprio conceito de corrupção – e, de quebra, mina a credibilidade da fiscalização legítima.

CONTEÚDO

No afã de se mostrar o paladino da moralidade, o vereador corre o risco de se tornar refém do próprio enredo. Quando tudo é denúncia,  nada é grave. O exagero na forma contamina o conteúdo.

(*) Robson Oliveira é jornalista e advogado

(**) O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Mais Rondônia não tem responsabilidade legal pela opinião, que é exclusiva do autor.

 

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