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terça-feira, março 11, 2025

Por que muitos acreditam que a economia está pior, mesmo com indicadores positivos?

Por Édson Silveira (*)

Nos últimos anos, tenho observado atentamente o debate político e econômico no Brasil. Algo que me intriga é como uma parte significativa da população, especialmente entre as classes mais humildes, acredita que a economia do país está em declínio. Essa percepção contrasta com os indicadores econômicos oficiais, que mostram avanços importantes. Como entusiasta da análise de dados, busco entender essa discrepância entre os números e a percepção cotidiana.

Indicadores Econômicos: o que os números revelam?

Vamos começar com os dados mais recentes. Em 2024, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 3,5%, superando a projeção anterior de 3,2% (Fonte: Agência Brasil). Esse crescimento foi impulsionado por três pilares da economia:
•Agronegócio: beneficiado por uma safra recorde e alta demanda internacional.
•Serviços: com forte recuperação após a pandemia.
•Indústria: em retomada, especialmente nos setores de transformação e construção civil.
Além do crescimento econômico, a inflação, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), fechou 2024 em 4,83% (Fonte: IBGE). Embora esteja acima da meta do Banco Central (3,5% com margem de 1,5 ponto), trata-se de uma inflação controlada em comparação com anos anteriores.
Outro dado relevante é a taxa de desemprego, que caiu para 6,1% no final de 2024, o menor patamar desde o início da série histórica da PNAD Contínua, em 2012 (Fonte: Governo Federal). Foram criados 3,7 milhões de empregos com carteira assinada desde janeiro de 2023, o que representa uma recuperação importante do mercado de trabalho.

Por que então a percepção negativa?

Apesar desses indicadores positivos, muitos brasileiros sentem que a economia está em crise. Acredito que isso se deve a dois fatores principais:

1. Aumento de preços em itens essenciais

Embora a inflação geral esteja sob controle, o aumento de preços em produtos básicos impacta diretamente o dia a dia das famílias de baixa renda. Alimentos como carne, arroz e óleo de soja tiveram altas expressivas em 2024. O IBGE mostra que, enquanto a inflação geral ficou em 4,83%, a inflação dos alimentos ultrapassou 7% em algumas regiões.
Para quem dedica a maior parte da renda à alimentação, esses aumentos geram uma sensação real de perda de poder de compra, independentemente de outros avanços econômicos.

2. Narrativas políticas e o papel da mídia

Determinados grupos políticos têm sido eficazes em disseminar a ideia de que o Brasil enfrenta uma grave crise econômica. Nas redes sociais e em alguns veículos de imprensa, destaca-se o aumento de preços de combustíveis e alimentos, sem o devido contexto global.
Por exemplo, o aumento dos combustíveis em 2024 foi impulsionado tanto por questões internas quanto pela alta do petróleo no mercado internacional (Fonte: Reuters). No entanto, muitas vezes, o impacto dessa informação não é bem contextualizado para o público.

Desafios na comunicação governamental

O governo enfrenta dificuldades em comunicar suas conquistas de forma clara. Enquanto as narrativas negativas são simples e diretas, os avanços econômicos são mais complexos e, muitas vezes, não chegam à população de forma acessível.
Poucos conhecem, por exemplo, que o Brasil atingiu a meta de déficit primário, com um resultado de -0,36% do PIB em 2024, dentro da margem de tolerância fiscal (Fonte: Reuters). Esse é um feito importante em termos de equilíbrio das contas públicas.
Além disso, há um desconforto generalizado com questões como supersalários no setor público e a alta carga tributária, que geram insatisfação mesmo em um contexto de crescimento econômico.

Esforços fiscais e desafios futuros

O presidente Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, têm buscado um equilíbrio entre responsabilidade fiscal e políticas sociais. O governo conseguiu manter a taxa Selic em níveis elevados (fechando 2024 em 13,25%), o que ajudou a controlar a inflação, mas também limitou o acesso ao crédito e o consumo das famílias (Fonte: Reuters).
O grande desafio para 2025 será manter o crescimento econômico, reduzir o déficit fiscal e enfrentar as pressões por aumento de gastos, especialmente em áreas como saúde e educação.

Conclusão: alinhando percepção e realidade

Há uma desconexão entre os indicadores econômicos e a percepção popular. Enquanto os dados mostram uma recuperação sólida, muitos brasileiros não sentem esse progresso em seu cotidiano, especialmente devido ao impacto do aumento de preços em itens essenciais.
É fundamental que o governo melhore sua comunicação, tornando os resultados econômicos mais compreensíveis para o cidadão comum. Além disso, é necessário enfrentar desafios estruturais, como a desigualdade social, que perpetua a sensação de insegurança econômica.
Por fim, cabe a cada um de nós buscar informações de fontes confiáveis, analisando os dados com espírito crítico, para não sermos reféns de narrativas simplistas que distorcem a realidade.

 (*) Édson Silveira, advogado, administrador, professor aposentado e vice-presidente estadual do PT/RO

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