Enquanto o rio Madeira ultrapassa histórico de cheia, com mais de 18m50 acima do nível (hoje, segunda-feira), atingidos pela barragem são reprimidos à bala pela Polícia Militar do Estado de Rondônia. Sexta-feira passada, a Polícia Militar reprimiu violentamente o trancamento da BR 364, realizado por moradores de Jaci Paraná, distrito localizado a cerca de 100 quilômetros de Porto Velho, capital do estado de Rondônia, e atingido integralmente pela barragem da hidrelétrica de Santo Antônio.
Na ocasião, um contingente da PM foi acionado para reprimir os moradores. Os policiais atiraram balas de borracha e prenderam três pessoas que foram levadas à cidade de Porto Velho.
JACI PARANÁ
O distrito de Jaci Paraná, localizado a 90 km da capital, sofre inúmeros consequências sociais desde o início da construção das duas usinas, como inchaço populacional, piorando a situação de ausência de estruturas de saúde, educação, segurança e transporte, além de elevados índices de violência e prostituição. Santo Antônio inundou a vida das famílias e Jirau trouxe o caos, junto a mais de 20.000 operários, que se revoltaram em 2011 pela superexploração de seu trabalho.
O distrito cercado pelo reservatório da usina de Santo Antônio é atingido frequentemente por inundações depois da instalação da UHE Santo Antônio, com infiltração de água do reservatório no lençol freático e contaminação dos poços de água para consumo humano e convertendo diversas partes de Jaci Paraná em área de risco. Porém, nesse mês, o alagamento atingiu níveis muito acima do normal, afirmam famílias de Jaci Paraná que vivem na região há gerações.
Para o MAB e outras organizações, a acumulação de água nos reservatórios e o aumento da vazão dos vertedouros das usinas de Santo Antônio e Jirau potencializaram os alagamentos naturais do período e mais áreas, que antes não sofriam alagamento, são atingidas.
No ano passado, a Santo Antônio Energia solicitou junto à ANEEL o aumento de 80 centímetros da cota do espelho d’água do reservatório da hidrelétrica de Santo Antônio. O que está em jogo nesse aumento é uma receita extra estimada em R$ 3 bilhões para as empresas responsáveis pela usina ao longo dos anos de concessão, diante do sofrimento das famílias.
PORTO VELHO CORRE PERIGO
O MAB alerta, que em função da situação que se encontram as duas hidrelétricas, toda a população de Porto Velho, a montante e jusante do rio Madeira, corre sérios riscos. “A nossa luta, a luta em defesa do direito das populações que estão sendo afetadas e a luta em defesa da vida seguirão firmes, e desde já convocamos toda população a se somar nas próximas lutas. Denunciamos a Suez e Odebrecht e as estatais Chesf e Furnas por essa lamentável postura intolerante contra os interesses dos mais pobres. Não é com polícia que se trata a solução dos problemas dos trabalhadores e trabalhadoras atingidos por barragens”, denuncia a MAB.