Moscou quer mediar diálogo entre Armênia e Azerbaijão, que disputam região no Cáucaso. Confrontos entraram no quarto dia.
O Ministério das Relações Exteriores da Rússia afirmou nesta quarta-feira (30) que militantes armados de Síria e Líbia estão participando dos confrontos entre Armênia e Azerbaijão na região de Nagorno-Karabakh. Em comunicado, a chancelaria russa pediu que os dois países do Cáucaso evitassem usar “terroristas estrangeiros e mercenários” no conflito.
Russos e armênios formam uma aliança militar, enquanto a Turquia apoia o Azerbaijão — país próximo cultural e etnicamente. No entanto, o atual governo da Armênia esfriou as relações com Moscou, que, por sua vez, tem relações estáveis com as autoridades azeris.
Assim, a Rússia vem pedindo o fim dos confrontos em Nagorno-Karabakh, junto com países do Ocidente, para evitar que a guerra na região separatista armênia se escale em um desentendimento global.
Para tentar apaziguar a situação, o governo russo chamou para conversas os chanceleres da Armênia e do Azerbaijão — dois países que fizeram parte da União Soviética (1922-1991).
4º dia de combates
Confrontos entre Armênia e Azerbaijão na região de Nagorno-Karabakh continuaram nesta quarta-feira (30), quarto dia consecutivo de combates. Estima-se que mais de 100 pessoas tenham morrido nos enfrentamentos, inclusive civis.
O Ministério da Defesa do Azerbaijão disse que forças armênias começaram a bombardear a cidade de Tartar na manhã desta quarta e causou danos a estruturas civis. Do outro lado, a Armênia afirmou que forças azeris atacaram posições militares pró-armênia na cidade, que fica no norte de Nagorno-Karabakh.
Apesar de a comunidade internacional evitar se posicionar explicitamente ao lado de um dos dois países em confronto, a Turquia admitiu que apoia o Azerbaijão. Porém, o governo turco negou que estivesse enviando aeronaves militares à região.
O que é Nagorno-Karabakh
Nagorno-Karabakh abriga quase 150 mil pessoas em um território encravado nas fronteiras do Azerbaijão. Dessa população, segundo dados apresentados pelo governo armênio, 95% têm origem armênia. Separatistas clamam independência do território, conhecido também como Artsakh.
De um lado, armênios argumentam que são a maioria étnica e, por autodeterminação dos povos, têm direito ao controle de Nagorno-Karabakh. Do outro, os azeris entendem que também têm aquela região como parte do território histórico do Azerbaijão.
A região onde hoje fica Nagorno-Karabakh era povoada tanto por armênios, majoritariamente cristãos, quanto azeris, que na maioria seguem o Islã. Embora o Império Russo no século XIX e no início do século XX tenha conseguido conter tensões étnicas no Cáucaso, não raro os dois grupos entravam em confronto.
Com a Revolução Russa de 1917 e a subsequente formação da União Soviética em 1922, o território por onde se estendiam os domínios de Moscou foram divididos em repúblicas e regiões autônomas. E, embora os armênios fossem maioria em Nagorno-Karabakh, o governo soviético decidiu, ainda nos anos 1920, incluir o território dentro das fronteiras da então República Socialista Soviética do Azerbaijão.
Em 1988, três anos antes da dissolução da União Soviética, eclodiu uma guerra entre azeris e armênios na disputa por Nagorno-Karabakh. Mais de 30 mil pessoas morreram, segundo estimativas.
Há diversas razões para o início dos confrontos, mas a menor interferência de Moscou em um período de reabertura capitaneada por Mikhail Gorbachev diminuiu a coesão imposta pelo governo central da URSS: os militares soviéticos não conseguiram conter os movimentos separatistas pró-Armênia em Nagorno-Karabakh, e a guerra começou.
O conflito só terminou em 1993, já depois da dissolução da União Soviética. Os confrontos tiveram fim com um cessar-fogo assinado no ano seguinte e mediado, principalmente, pela Rússia.
Ainda assim, em 2016, novos confrontos em Nagorno-Karabakh deixaram quatro mortos e reacenderam a tensão regional — acalmada desde o fim dos embates na década de 1990. E outros combates ocorridos em julho de 2020 mostraram que a paz mediada há quase 30 anos está em risco.
Fonte: G1