A julgar por declarações do próprio presidente, esse é o único emprego da palavra “moral” naquela Casa
Ao contrário do que já reclamaram alguns leitores, não é má vontade do blogueiro. Na medida em que se aproximam as eleições e se consolida a característica debandada generalizada, deflagrada pela proximidade de um novo reinado, começam a pipocar no Legislativo denúncias em série contra atitudes típicas do “salve-se quem puder”. Agora mesmo um grupo de jornalistas se mobiliza para denunciar na justiça o diretor do Decom, Paulo Ayres de Almeida, por assédio moral.
Desequilibrado em função da presença de representantes do MP no Departamento de Recursos Humanos, o chefe da assessoria de imprensa está distribuindo agressões por atacado. Principal beneficiário do enquadramento absolutamente ilegal que o transformou, com uma simples canetada, de celetista em estatutário, ele antecipa o cenário sombrio que se desenha em seu futuro e parte para o ataque contra qualquer um que seja profissionalmente obrigado ao convívio no setor.
É que ele foi o único do grupo enquadrado como estatutário que conseguiu sacar integralmente o FGTS depositado por sua condição anterior de celetista. E ainda tenta receber também os benefícios da mudança, retroativa a 5 de outubro de 1988, véspera da promulgação da Constituição Federal que proíbe a safadeza. Ele quer retirar, em pecúnia, os quinquênios aos quais imagina ter direito. Como é comandante da tropa de choque de Hermínio Coelho é bem capaz de conseguir. E mais: que ninguém se surpreenda se ele tentar antecipar a aposentadoria, artifício ilusório que deve considerar suficiente para escapar da quase certa revisão do caso.
“Assembleia não tem moral para propor CPI”
“Estão querendo é fazer graça, só politicagem. Essa Assembleia não tem moral para fazer CPI contra ninguém. Durante a atual Legislatura não vimos sequer uma única denúncia investigada. Não podemos aceitar politicagem com empreendimentos sérios como estes das usinas”. A declaração – exatamente como foi publicada em 2009 – foi a reação do então presidente da Câmara, vereador Hermínio Coelho, ao ser questionado sobre a proposta de instalação de uma CPI na Assembleia para investigar as usinas do rio Madeira. Exatamente o que propõe hoje o agora deputado e presidente do legislativo estadual.
O então vereador, cujo trabalho de maior envergadura foi a concessão de título de cidadão honorário de Porto Velho ao presidente Lula, justamente em função das usinas (e das obras do PAC em Porto Velho, por sinal jamais concluídas), disse à época que “Não vamos aceitar que alguns parlamentares façam graça para tentar atrapalhar essas obras, as mais importantes do PAC do governo Lula”. E continuou: “Não vimos fundamento algum para a abertura de uma CPI, a não ser uma tentativa de crias dificuldades. E, como diz o próprio governador (Ivo Cassol), líder político do grupo que criou a CPI, quem tenta criar dificuldades é porque quer vender facilidades. Definitivamente essa CPI não é uma coisa séria. É mais uma tentativa de prejudicar a capital” – declarou ele.
O que terá mudado desde então para justificar o tom atualmente irado de Hermínio Coelho, que agora propõe a CPI contra as usinas? Está certo que ele saiu da condição de vereador para deputado e que as alagações certamente não estavam previstas no planejamento feito “para dez mil anos” pelas usinas. Mas a Assembleia continua basicamente a mesma. Com algumas pontuais variações, mas com novos e repetidos escândalos. O então deputado Valter Araújo reagiu à época violentamente contra o discurso de Coelho, chamando-o de “pau mandado” do prefeito Roberto Sobrinho ”e que ele deveria cuidar das questões relativas ao trabalho da Câmara, que “contra a administração petista nada investiga. Então, quem é que não tem moral?”
Aí, você, leitor, pode lembrar que o deputado Valter Araújo foi condenado, cassado, fugitivo da justiça e hoje é presidiário. Tudo bem. Mas não existem grandes diferenças entre ambos, a não ser pelo fato de Araújo estar em cana e Hermínio ainda não. O que de fato importa é que Hermínio assegura que, agora, a Assembleia tem moral inclusive para cobrar do governador e do prefeito da capital coragem para interromper as obras das hidrelétricas. A considerar o que ele mesmo disse, fica a suspeita de que está criando dificuldades para negociar facilidades.
Fonte: Blog do Cha