O entrevistado de hoje é o jovem empresário Dayan Cavalcante Saldanha, 40 anos, guajaramirense de coração, mas, nascido ocasionalmente em Guiratinga-MT. O pai dele, o bancário Paulo Saldanha, havia sido transferido para lá, quando atuava pelo BASA. Dayan trabalha de frente para dois rios, Mamoré e Pacaás Novos, em Guajará-Mirim, fronteira com a Bolívia, onde administra o hotel de selva Pakaas Palafitas Lodge. É casado com a publicitária Janaína Ferri há 15 anos, pai de João Paulo, oito anos e Raphaela, de quatro anos. O hoteleiro é presidente do Diretório Municipal do PSDB de Guajará-Mirim. É católico e acompanha de perto a doutrina espírita, e bastante eclético com relação a musica. Torcedor do Atlético Mineiro, feliz pelo time ter sido campeão da Libertadores no ano passado. Formado em Comunicação Social, com habilitação em Publicidade e Propaganda pela UFMT, a família de Dayan é radicada em Rondônia desde os primeiros anos da década de 1910, através do tio tataravô, o Coronel da Guarda Nacional Paulo Cordeiro da Cruz Saldanha, grande empreendedor amazônico que gerenciou a Guaporé Rubber, Do lendário Percival Farqhuar, fundando após comprar a empresa dele, o Serviço de Navegação do Guaporé – SNG.
O pai dele, Paulo Saldanha, fundou o Banco do Estado de Rondônia (BERON), sendo seu primeiro presidente. Dayan estreou na vida pública como Secretário de Cultura e Turismo de Guajará-Mirim, na gestão do prefeito Atalíbio Pegorini por três anos. Desde o ano 2000 a família Saldanha promove o destino turístico Rondônia com o Pakaas Palafitas Lodge, um empreendimento 100% rondoniense (e guajaramirense). O empreendimento já foi notícia nos melhores meios de comunicação do Brasil e do mundo (deu até no New York Times). Entre os destaques estão o livro Exotic Retreats (de Julia Faires, Editora Rotovison) em que a autora reúne os meios de hospedagem mais destacados em sua localização, arquitetura/decoração e, principalmente, que utilizam práticas sustentáveis. O Pakaas é o único representante brasileiro na seleta lista. Outro fato foi a revista oficial do Ministério do Turismo, produzida para o Salão do Turismo 2010 em que uma imagem aérea do Pakaas representa toda a região Norte na capa da publicação (ao lado do Cristo Redentor/Sudeste, Catedral de Brasília/Centro-Oeste, Fernando de Noronha/Nordeste e Cânions do RS/Sul).
+RO:- Como você vê Guajará-Mirim, após o ciclo da borracha e o fim da EFMM que ligava a cidade a Porto Velho?
Dayan Saldanha:- De alguma maneira, ficamos “mal acostumados” a receber tudo do Governo Federal, pois éramos Território Federal. A população acabou entrando em um nível de acomodação, agravados com o completo abandono por parte dos Poderes Públicos (Federal e Estadual). Com o advento das cidades da BR 364 “aceitamos” simbolicamente que a Pérola do Mamoré era Fim de Linha. De uns anos para cá, noto que, mesmo timidamente, começam a surgir atitudes mais significativas. Por exemplo, a comunidade se reuniu e abraçou o Museu Histórico Municipal quando percebeu que a reforma daquele importante patrimônio histórico estava demorando demais; fizemos manifestações para cobrar as compensações culturais para revitalização da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré na cidade e por uma maior atenção com os Bois Bumbas (que movimentam a economia local geram oportunidades e podem ocupar a juventude em risco social). Merecemos mais atenção pois em outros tempos, garantimos a soberania Nacional na Fronteira (imaginem os seringueiros que ocupavam longínquas ‘colocações’) e hoje contribuímos com a sustentabilidade ao preservar nossa floresta (93% da área do município é preservada em Unidades de Conservação e Terras Indígenas). Há um movimento na cidade para que os leitores elejam representantes da cidade para ALE e para a Câmara, pois é recorrente a reclamação de políticos que ganham votos significativos e acabam virando as costas para a cidade.
+RO:- A Área de Livre Comércio de GM mudou alguma coisa no tocante ao desenvolvimento?
Dayan Saldanha:- Houve uma grande expectativa, assim como houve em outros ciclos (EFFMM, Borracha, Ouro). Infelizmente ela durou pouco. Fico imaginando se faltou apoio político (nossa bancada “brigar” mais). Hoje, a cidade de Guayaramerin está se desenvolvendo a olhos vistos. Basta um passeio pela rua principal de “La Banda”, percebe-se a quantidade prédios novos, a circulação de pessoas e a criação de mais serviços. Tivemos acesso a um dado oficial que, em média, mil pessoas cruzam a fronteira em direção aos produtos importados da Bolívia. Imaginem 360 mil pessoas por ano visitando a cidade e ficando, pelo menos um ou duas noites? Seria muito auspicioso. Vamos rejeitar com toda a força o “título” de fim de linha ou cidade de passagem. Precisamos de um Desenvolvimento Sustentável.
+RO:- O que falta para GM se desenvolver?
Dayan Saldanha:- Além de representantes que tenham real compromisso com a terra e que tenham coragem para quebrar esse círculo vicioso que vive a cidade há, pelo menos, 20 anos, acredito que a cidade tem que ter um foco. Deve escolher qual seu modelo de desenvolvimento econômico e social. Vai ser indústria? Comércio? Turismo? Bem, devido aos nossos atrativos culturais, naturais e posição geográfica, nos indicando que estamos um grande passo à frente, eu voto pelo Turismo. Mas eu acho que sou suspeito, não?
+RO:- Como você vê o governo Dilma e o que achou do governo Lula no ponto de vista político e social?
Dayan Saldanha:- Acredito em erros e acertos. Houve muitos avanços, especialmente na questão social, muito em função das bases que foram criadas a partir do controle da inflação, com a chegada do Real. Politicamente, creio que a ampla aliança criada trouxe prós e contras para Lula e Dilma, mas, foram muitas notícias de corrupção. Noto uma insatisfação generalizada. Além disso, acho saudável a alternância de Poder e que as Políticas Públicas de interesse social devem ser tratadas como políticas de Estado e não política de Governo.
+RO:- Como você vê o governo Confúcio Moura?
Dayan Saldanha:- Sob a ótica da Gestão da Cultura (que é a que vivi mais de perto quando estava na Secretaria de Cultura e Turismo de Guajará), acredito que houve um total esquecimento nestes três últimos anos de administração. Investir em Cultura também é trabalhar preventivamente em saúde, em desenvolvimento econômico social. A Economia da Cultura movimenta financeiramente e inclui, pois, dá oportunidade a crianças, jovens artistas. Uma pena.
+RO:- Como você a atuação da Assembleia Legislativa?
Dayan Saldanha:- Acredito que os parlamentares estaduais poderiam ser mais atuantes e apresentem matérias mais relevantes, pois, em Guajará-Mirim, por exemplo, tivemos uma pomposa sessão itinerante e pouco ou quase nada do que foi prometido foi cumprido. Existe muito conflito e parlamentares dispostos a acirrar esse conflito entre poderes. Quem perde é Rondônia.
+RO:- Copa do Mundo! O Brasil deve ser campeão? Por quê?
Dayan Saldanha:- Não concordo que os maiores eventos esportivos do mundo sejam os culpados pela falta de estradas, hospitais, aeroportos, escolas. São eventos que gerarão milhões de dólares e milhares de empregos, ainda que temporários. Não dá pra voltar no tempo e desistir da Copa (o povo deveria ter ido à rua lá atrás, quando o Brasil foi escolhido, já que realmente, temos prioridades mais urgentes). Se o Brasil, hipoteticamente não realizasse a Copa e as Olimpíadas, teríamos as escolas que gostaríamos hoje? Os hospitais “padrão FIFA” estariam construídos hoje? A coisa é mais complexa. Claro, o que não se pode tolerar são os gastos excessivos nos estádios (são os terríveis e famigerados “aditivos”), desvios de recursos em obras, atrasos injustificáveis e o que vêm ocorrendo sistematicamente.
+RO:- Futebol regional. Por que o nosso futebol não vai para frente? Falta o quê?
Dayan Saldanha:- Faltam equipamentos esportivos de qualidade. Os municípios deveriam ser apoiados para criação de escolinhas de futebol. Além disso, os estádios estão quase todos interditados, o que dificulta a criação de um campeonato. Leis de Incentivo que oportunizem os empresários investir em equipes também estão em falta. Não existe um só culpado.
+RO:- Em sua opinião, quais deputados federais mais se destacaram?
Dayan Saldanha:- Acompanho sempre a TV Câmara e a TV Senado e quase nunca consigo ver um deputado de Rondônia se manifestando nas Tribunas. Parece-me que quase todos fazem parte do chamado baixo clero. Há os que se destacam e por isso são reconduzidos aos cargos. Evidentemente, que existem as emendas que são destinadas às bases eleitorais dos parlamentares e eles lançam mão desse expediente e assim vão mantendo suas reeleições.
+RO:- – Diga o nome de um candidato ao governo de sua preferência. Por quê?
Dayan Saldanha:- Precisamos de um nome que conheça profundamente o Estado de Rondônia, que conheça de perto as necessidades de cada particularidade de nosso Estado. Alguém que consiga mobilizar lideranças e que tenha prestígio em nível nacional. Talvez alguém que tenha espírito conciliador, mas que tenha firmeza nas decisões. No meu entendimento, hoje, quem melhor reúne tais qualidades é o pré-candidato do PSDB, que já foi vereador, ex-deputado federal, já foi secretário de estado e ex-senador Expedito Junior.
+RO:- – Em sua opinião, Rondônia tem liderança política nata ou ainda vai se consolidar politicamente como Amazonas, Acre, Pará, etc?
Dayan Saldanha:- Nós somos resultados de um caldeirão cultural. Temos aqui nordestinos, sulistas, nativos, além de descendentes de 52 nacionalidades que construíram a Madeira-Mamoré. Estamos ainda formando nossas lideranças políticas. Poucos prefeitos se reelegem ou fazem seus sucessores, por exemplo.
+RO:- O que você acha da criminalidade que assola o País, em especial Rondônia?
Dayan Saldanha:- Infelizmente é uma triste realidade. Todos ou já fomos vítimas ou conhecemos alguém que sofreu algum tipo de violência. Algo está errado. O sistema carcerário deve ser revisto, pois a pessoa não é ressocializada, ao contrário, acaba se aprimorando no mundo do crime. Tudo isso passa pela base de tudo: Educação.
+RO:- Como você vê o projeto de se aplicar 75% do royalty do petróleo em educação?
Dayan Saldanha:- Qualquer iniciativa que seja feita para melhorar a educação brasileira tem meu apoio. Grande parte dos problemas nacionais passa pela deficiência na educação. Somos um país que lê pouco. Os professores, que tem a importante missão de passar quase o mesmo tempo que os pais dos jovens, deveriam ser muito melhor remunerados. As universidades oferecem ensino, pesquisa e extensão, mas só entregam a primeira, via de regra. Espero que os recursos sejam BEM aplicados para reverter o quadro.
+RO:- Bolsa Família. É um bom programa social? Por quê?
Dayan Saldanha:- Importante programa social que deve ser mantido, mas que se deve estar atentos a distorções. Deve ser um meio e não um fim. Imagino que o programa poderia ser melhorado se incluíssem algum tipo de aperfeiçoamento técnico como requisito para o cadastro, para que a pessoa fique apta para o mercado de trabalho ou coisa do tipo.
+RO:- Em sua opinião, Rondônia tem cultura? Os eventos culturais estão a contento?
Dayan Saldanha:- Há algum tempo participei de uma discussão sobre quais seriam os ícones de nossa cultura. Por exemplo, o Pará tem o Carimbó, a maniçoba, Mato Grosso tem a Maria Izabel, o rasqueado… Nós, somos produto de uma mistura fantástica e nossas manifestações culturais espelham isso, pois temos o Boi Bumbá em Guajará, que veio com o Soldados da Borracha (muitos oriundos do Nordeste), A Festa do Divino Espírito Santo, das comunidades Quilombolas do Guaporé, a arte indígena, isso sem falar no Carnaval, teatro, a turma do audiovisual e até mesmo as festas de exposição agropecuária. Um verdadeiro mix cultural. Agora, nosso maior patrimônio histórico cultural é algo que poucos lugares do mundo têm: uma tal ferrovia em plena selva amazônica, a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. A Madeira Mamoré está para o Turismo em Rondônia como o Cristo Redentor está para o Turismo no Rio de Janeiro. É o nosso ícone maior. Praticamente existimos em função dela e é uma pena que não saibamos ter isso a nosso favor.
+RO:- O Programa Mais Médico, do governo federal, foi uma boa iniciativa do Governo Federal?
Dayan Saldanha:- Para quem vive em cidades do interior, médico nunca é demais. Ocorre que não podemos cair na cilada de trazer profissionais e não ter um mínimo de infraestrutura. No interior, geralmente, o tratamento é o encaminhamento para a capital, sobrecarregando as unidades de saúde das grandes cidades. Às vezes faltam desde aparelhos de Raios-X até reagentes para exames laboratoriais. O que um médico fará diante desse cenário? Queremos sim mais médicos, mas também mais remédios, mais material penso, mais equipamentos, mais leitos, mais UTIs…
+RO:- Como você vê atuação liberal do Papa Francisco? É uma nova era da religião católica?
Dayan Saldanha:- Um resgate. Impressionante como o Papa Francisco vem se destacando ao abordar temos considerados tabus pela Igreja Católica. Claro, é uma estratégia, pois seguramente os altos cardeais vêm percebendo a queda de fiéis. Espero que, cada vez mais, tais assuntos sejam abordados e desmistificados e esclarecidos. Transparência nunca é demais. Em todos os casos.