Onze e meia da manhã, hora do almoço no abrigo do Parque dos Tanques, na Avenida Lauro Sodré os moradores deixam seus alojamentos para a hora do almoço. No cardápio do dia feijão, arroz, macarrão, frango, farofa e salada. A comida é à vontade, mas não pode haver desperdício.
Até alguns dias atrás as refeições eram servidas em quentinhas. A mudança para o prato feito servido na hora agradou mais aos beneficiários, que desde então podem medir a quantidade de alimento a ser servido. O transporte é feito em grandes panelas, trazidas pelo caminhão do fornecedor, servidores e voluntários se encarregam da distribuição.
Aguardando a diminuição da fila, Cleonice Alves, de 47 anos, moradora da Linha 19, no Assentamento Joana d’Arc, instalada no local há 24 dias, diz que não tem o que reclamar da alimentação, que é servida três vezes ao dia. “Só perde a comida quem não chega na hora”, acentua. Para ela o problema maior no local é o calor nas barracas, mas ainda assim é possível suportar, desde que seja por poucos dias. A agricultora diz que não tem notícias de casa e que quando deixou o imóvel, o mesmo não fora tomado pelas águas mas estava isolado. “Tenho muita vontade de voltar para casa, mas nem sei se vou realizar este sonho”. A subsistência da família vinha da plantação de macaxeira. “Eu e meu marido queremos muito ir embora e continuar a nossa vida lá no assentamento, por melhor que sejam as coisas por aqui, sabemos que aqui não é o nosso lugar”, sintetiza.8 – refeições
Davi Luiz é um bebê de 30 dias. Nasceu quando a família estava abrigada na Escola São Pedro. Há uns quinze dias todos foram transferidos para o Parque dos Tanques. Nos braços da avó paterna, Leonilda Corrêa, de 43 anos, ele foi examinado pela técnica de enfermagem Celi Gadelha, que constatou a ocorrência de candidíase oral, o popular sapinho que aparece na boca de recém nascidos. Leonilda é manicura, praticamente perdeu a casa no bairro da Balsa, mas diz que tem esperança de reconstruí-la, mesmo que de forma parcial. “Ainda não consegui autorização para ir até lá, mas acho que é só uma questão de tempo”, diz resignada com a situação. A família é grande, são seis filhos, noras e os netos. No Parque dos Tanques ela divide a barraca com outros cinco membros da família, foi designada pela coordenação como a responsável e com isso nem pode sair muito do local para fazer unhas. “Mesmo assim, sempre que algum cliente me liga, dou um jeito de ir fazer suas unhas, porque é daí que tiro o sustento da família”.
Leonilda é uma das que constata que a alimentação servida no Parque dos Tanques melhorou, “mas falta uma merenda para as crianças à tarde, antes do jantar”, lamenta. Mas diz que está consciente da necessidade de voltar para casa. “Temos sido assistidos, mas voltar pra casa será muito melhor”.
Outro que mora no Joana d’Arc é Manoel Fernandes e a esposa Ledir, recolhidos na casa provisória eles faziam a refeição do almoço e enquanto isso contou que a propriedade não foi invadida pelas águas, mas há algum tempo já estava muito encharcada, a plantação de banana e de mandioca estava comprometida e para evitar perdas maiores foi convencido pela Defesa Civil que precisava deixar o local. “Estamos aqui desde o dia sete de abril e aguardamos ansiosamente as surpresas que o futuro nos reserva”.