Vítima do roubo que havia identificado Vinícius Romão de Souza como assaltante voltou atrás em seu depoimento, disse o delegado responsável pelo caso, Niandro Lima; amigos e familiares de Vinícius, que atuou na novela Lado a Lado, da Globo, apontam o episódio como mais um caso de preconceito racial; “O crime do Vinícius é ser negro, ter ‘black power’ e estar na hora e local errados. O suficiente para torná-lo um assaltante em potencial”, escreveu o deputado Jean Wyllys no Twitter; jovem de 27 anos está preso por duas semanas.
A Polícia Civil do Rio de Janeiro confirmou, nesta terça-feira 25, que o psicólogo e ator Vinícius Romão de Souza, de 27 anos, foi preso por engano. A vítima de roubo que reconheceu Vinícius momentos depois como sendo o criminoso que levou seus pertences, a copeira Dalva Maria da Costa, voltou atrás em seu depoimento hoje, informou o delegado da 25ª DP (Engenho Novo) e responsável pelo caso, Niandro Lima.
A prisão de Vinícius Romão causou comoção nas redes sociais. Amigos, colegas de trabalho e familiares do ator, que é negro, classificaram o episódio como mais um caso de preconceito racial. Segundo pessoas próximas do ator – que atuou na novela Lado a Lado, da TV Globo – ele foi detido injustamente. Vinícius foi preso em flagrante no dia 10 de fevereiro na Casa de Detenção Patricia Acioli, em São Gonçalo, onde está até hoje.
Segundo reportagem da rádio Globo, Vinícius Romão foi reconhecido pela copeira Dalva Maria da Costa como o homem que a assaltou momentos antes em um ponto de ônibus no bairro do Méier, zona norte do Rio. Ela foi encontrada chorando por um homem que se identificou como policial Freitas e a levou em seu carro para procurar o criminoso. Os dois viram Vinícius em um viaduto próximo, e ela confirmou que ele era o assaltante.
Imediatamente o policial Freitas sacou a arma e revistou Vinícius. Mesmo sem portar qualquer objetivo da vítima, o ator, que estava voltando de seu trabalho como vendedor em um shopping próximo, foi algemado e levado para o 25º DP do Engenho Novo, e registrado como flagrante. Em seguida, foi levado à Casa de Detenção Patricia Acioli. Em novo depoimento nesta terça-feira, Dalva admitiu ter errado no reconhecimento, o que deve ser decisivo para a libertação do jovem.
Familiares iniciaram uma campanha nas redes sociais pela libertação de Vinícius. “Meu filho foi completamente injustiçado, principalmente pelos policiais, que não apuraram nada. Só chegaram para a moça assaltada e disseram: ‘Foi ele, não foi’? Ela acabou confirmando. Era apenas a palavra dela”, disse o tenente-coronel da reserva do Exército Jair Romão, de 64 anos.
O deputado Jean Wyllys (Psol-RJ) fez diversas críticas sobre o caso no Twitter. “O crime do Vinícius é ser negro, ter ‘black power’ e estar na hora e local errados. O suficiente para torná-lo um assaltante em potencial”, escreveu o parlamentar. Jean lembrou que “essas prisões ‘por engano’ são muito comuns em nosso país e, na maior parte dos casos, as vítimas são homens negros, pobres, de periferia”.
De acordo com o advogado de Vinícius Romão, Rubens Nogueira de Abreu, o que ocorreu foi um “reconhecimento precipitado” por parte da vítima. Segundo ele, não é incomum esse tipo de arbitrariedade por parte da polícia, principalmente quando se trata de pessoas negras.
“O que houve, na realidade, foi um reconhecimento precipitado, que não foi apurado”, disse. Segundo o advogado, as imagens de uma câmera localizada em frente ao ponto de ônibus onde ocorreu o crime mostram que o assaltante vestia apenas uma bermuda, enquanto Vinícius estava de calça e camisa pretas no dia em que foi preso.