Osmar Silva
No último artigo, “Os Tenharins e os Uru-Eu-Wau-Waus” cometi um erro terrível. Uma confusão da minha memória de sete décadas trocou Chico Prestes por João Teles. Embora esse último também seja um personagem histórico de outras escaramuças pela posse das terras de Rondônia nos anos setenta, não tem nada a ver com a vingança perpetrada contra os Uru-Eu-Wau-Waus desde o sumiço do menino Fábio, raptado contam, das margens do Rio Jamari.
Francisco Prestes, ou simplesmente o seringueiro Chico Prestes, pai de Fábio, é o verdadeiro nome do personagem que protagonizou esse triste epsódio que culminou na morte de muitos índios e ‘brancos’ durante a conquista das terras que hoje abrigam Cacaulândia e Colina Verde. Chico mudou-se de Ariquemes não sei pra onde. Guarda consigo os detalhes desse embate que não lhe devolveu o filho. E nem a certeza de que vive.
Quem me corrigiu foi o leitor Confúcio Moura, médico atuante nos tempos desses fatos, e que certamente atendeu e cuidou de algumas vítimas desse histórico episódio. Fez a correção com uma frase curta, de observador perspicaz, bem ao seu estilo: foi o Chico Prestes e não o João Teles, Osmar.
Feito o reparo histórico, lhes conto que João Teles junto com Zé Preto, Parafuso, Joaquim Davi e o Pamonha, foi destemido pioneiro que se assentou nas terras da Cunha do Marechal, um pedaço belicoso da geografia de Rondônia encravada entre a fronteira dos projetos de colonização Burareiro e Marechal Dutra e a atual linha divisória entre Ariquemes e Jaru.
A aquela época, Jaru era distrito de Ariquemes e o que existia era um pedaço de terra fora dos projetos de assentamento do Incra. Ali já estava encravada a Fazenda Nova Vida com a sua ambiciosa expansão levada a curso a ferro e a fogo por seus proprietários. E os personagens, acima citados, eram pequenos colonos que haviam comprado suas terras de uma certa Colonizadora Calama cuja legitimidade a Nova Vida não reconhecia e, por conta disso, tomava dos colonos o que reclamava como seu.
Mas encontrou resistência. E muito sangue correu. Uns foram embora somente com as traias do corpo. Outros morreram tendo o Igarapé Valha-me Deus como testemunha. E alguns resistiram aos assaltos armados dos jagunços, derrubaram muitos deles e permaneceram até à chegada do Incra, pelas mãos de Reynaldo Galvão Modesto, que pacificou o ambiente reconhecendo o direito dos pequenos. João Teles é um desses sobreviventes.
Numa curva da BR-364 o João Teles se estabeleceu com o seu famoso restaurante Paca Assada. Fica entre as sombras de mangueiras por ele plantadas, cujo nome registra os tempos em que a carne bovina era rara e a caça era farta. E ainda não gerava a prisão sem fiança de hoje em dia. Muitos viajantes mataram a fome ali. João mudou de endereço, não sei por onde anda. Mas está entre nós. O restaurante também, servindo a boa comida da roça.
OsmarSilva – é jornalistas – [email protected]